IV DOMINGO DO TEMPO PASCAL: “Vocês são testemunhas da minha ressurreição”

1251

I. A PALAVRA DE DEUS

At 4, 8-12:Em nenhum outro há salvação”

Naqueles dias:

8Pedro, cheio do Espírito Santo, disse:

– «Chefes do povo e anciãos: 9hoje estamos sendo interrogados por termos feito o bem a um enfermo e pelo modo como foi curado. 10Ficai, pois, sabendo todos vós e todo o povo de Israel: é pelo nome de Jesus Cristo, de Nazaré, – aquele que vós crucificastes e que Deus ressuscitou dos mortos – que este homem está curado, diante de vós. 11Jesus é a pedra, que vós, os construtores, desprezastes, e que se tornou a pedra angular. 12Em nenhum outro há salvação, pois não existe debaixo do céu outro nome dado aos homens pelo qual possamos ser salvos.»

Sal 117, 1.8-9.21-23.26.28 e 29: “A pedra que os pedreiros rejeitaram, tornou-se agora a pedra angular.”

1Dai graças ao Senhor, porque ele é bom!
‘Eterna é a sua misericórdia!’
8É melhor buscar refúgio no Senhor,
do que pôr no ser humano a esperança;
9é melhor buscar refúgio no Senhor,
do que contar com os poderosos deste mundo!’

21Dou-vos graças, ó Senhor, porque me ouvistes
e vos tornastes para mim o Salvador!
22‘A pedra que os pedreiros rejeitaram,
tornou-se agora a pedra angular.
23Pelo Senhor é que foi feito tudo isso:
Que maravilhas ele fez a nossos olhos!

26Bendito seja, em nome do Senhor,
aquele que em seus átrios vai entrando!
28Vós sois meu Deus, eu vos bendigo e agradeço!
Vós sois meu Deus, eu vos exalto com louvores!
29Dai graças ao Senhor, porque ele é bom!
‘Eterna é a sua misericórdia!’

1Jo 3, 1-2: “Veremos a Deus tal como ele é”

«Caríssimos:

1Vede que grande presente de amor o Pai nos deu: de sermos chamados filhos de Deus! E nós o somos!

Se o mundo não nos conhece, é porque não conheceu o Pai. 2Caríssimos, desde já somos filhos de Deus, mas nem sequer se manifestou o que seremos! Sabemos que, quando Jesus se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque o veremos tal como ele é.»

Jo 10, 11-18: “O bom pastor dá a vida por suas ovelhas”

Naquele tempo, disse Jesus:

– «11Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida por suas ovelhas. 12O mercenário, que não é pastor e não é dono das ovelhas, vê o lobo chegar, abandona as ovelhas e foge, e o lobo as ataca e dispersa. Pois ele é apenas um mercenário e não se importa com as ovelhas.

14Eu sou o bom pastor. Conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem, 15assim como o Pai me conhece e eu conheço o Pai. Eu dou minha vida pelas ovelhas. 16Tenho ainda outras ovelhas que não são deste redil: também a elas devo conduzir; escutarão a minha voz, e haverá um só rebanho e um só pastor.

17É por isso que o Pai me ama, porque dou a minha vida, para depois recebê-la novamente. 18Ninguém tira a minha vida, eu a dou por mim mesmo; tenho poder de entregá-la e tenho poder de recebê-la novamente; esta é a ordem que recebi do meu Pai.»

II. COMENTÁRIOS

Pastor e rebanho são, desde a antiguidade, figuras que explicam a relação de Deus com seu povo: Israel. O Salmo diz: «O Senhor é meu pastor; nada me falta» (Sal 23,1). O Senhor, o Pastor, é Deus. Ele libertou seu povo da opressão do Egito, guiou-o pelo deserto à terra prometida, revelou-se no Monte Sinai como o Deus da Aliança: «Se obedecerdes à minha voz, e guardardes minha aliança, sereis o meu povo particular entre todos os povos.» (Ex 19, 5).

No Antigo Testamento são chamados também de pastores aqueles que Deus escolhe para apascentar seu povo. A figura dos péssimos pastores é utilizada pelo profeta Ezequiel (34,1-16). O profeta, em nome de Deus, fustiga duramente aqueles pastores que em vez de cumprir com seu ofício descuidam de suas funções ou se aproveitam de sua autoridade para apascentar a si mesmos, abusando, maltratando ou deixando desorientadas as ovelhas que foram confiadas a sua custódia. Também o profeta Jeremias empresta sua voz a Deus para denunciar a injustiça com esta mesma comparação: «Ai dos pastores que deixam perder-se e dispersar-se o rebanho miúdo de minha pastagem! … Dispersastes o meu rebanho e o afugentastes, sem dele vos ocupar.» (Jer 23, 1-2). Deus promete arrebatar as ovelhas de suas mãos e Ele mesmo ocupar-se delas: «Vou tomar eu próprio o cuidado com minhas ovelhas, velarei sobre elas. Como o pastor se inquieta por causa de seu rebanho, quando se acha no meio de suas ovelhas tresmalhadas, assim me inquietarei por causa do meu.» (Ez 34, 11-12; ver Jer 23, 3).

No Senhor Jesus Deus cumpre aquela antiga promessa. Ele é Deus mesmo que se compadece ao ver tantos que andavam «como ovelhas que não têm pastor» (Mt 9, 36). Ele proclama abertamente perante Israel: «Eu sou o bom Pastor. O bom Pastor dá a vida pelas ovelhas» (Jo 10, 11).

Aquele «Eu sou» do Senhor Jesus remete imediatamente ao Nome com que Deus se apresentou ao povo de Israel, por meio de Moisés: «Eu sou aquele que sou» (Ex 3, 14). Deus, em Jesus Cristo, veio reunir novamente seu rebanho disperso. Por sua vida livremente entregue, por seu sangue derramado no Altar da Cruz, devolve a vida a quem a perdeu, recupera suas ovelhas para reuni-las novamente em um único redil e conduzi-las Ele mesmo às fontes e pastos de vida eterna.

Na passagem do Evangelho deste Domingo o Senhor oferece três características que permitem reconhecer o verdadeiro pastor: 1) dá a vida por suas ovelhas; 2) conhece-as e elas a Ele; e 3) está a serviço da unidade de seu rebanho. Todas estas características se aplicam a Ele.

Ele é o Bom Pastor que dá a vida por suas ovelhas, porque realmente oferece sua vida como sacrifício no Altar da Cruz, em resgate por todos. Graças a sua livre entrega reconciliou a humanidade inteira com seu Pai, devolvendo a vida divina e eterna — perdida pelo pecado — a quem acredita nele (ver Jo 3,15).

Ele é o Bom Pastor que conhece suas ovelhas e as suas ovelhas o conhecem. Em sentido bíblico o conhecimento não é um conhecimento puramente racional ou intelectual, está embebido de um profundo amor, uma relação interior, uma íntima aceitação daquele que é conhecido. O fundamento da relação entre o Senhor Jesus e o discípulo é este conhecimento mútuo, dinâmico: «ama-se o que se conhece, e (…) conhece-se o que se ama», dizia Santo Agostinho. Assim vai construindo-se entre o Senhor e seu discípulo uma profunda e indissolúvel unidade e comunhão de vida. Esta comunhão íntima, fruto de tal conhecimento, expressa-se naturalmente por parte do discípulo na obediência amorosa: quem conhece Cristo escuta sua voz, faz o que Ele pede (ver Jo 2, 5), põe em prática o que Ele manda, com prontidão e alegria. Deste modo entra também na participação da mesma comunhão que Ele, o Filho, vive com o Pai: «como meu Pai me conhece e eu conheço o Pai».

Finalmente, Ele é o Bom Pastor que está a serviço da unidade de Israel e de todo o rebanho humano: «Tenho ainda outras ovelhas que não são deste redil: também a elas devo conduzir; escutarão a minha voz, e haverá um só rebanho e um só pastor» (Jo 10, 16). O Senhor Jesus realizou plenamente a unificação do disperso Israel prometida por Deus através de seu profeta Ezequiel (ver Ez 34, 22-24), mas foi mais à frente: abrangeu todos os filhos de Deus, a humanidade inteira. Esta unidade foi realizada mediante seu próprio sacrifício. Por sua morte quebrou os muros da divisão (ver Ef 2, 14), «reconduziu à unidade os filhos de Deus dispersos» (cf Jo 11, 52). Por sua Cruz nos reconciliou com o Pai, reconciliação da qual procede toda reconciliação e unificação: do homem consigo mesmo, com todos outros seres humanos e com a criação inteira.

III. LUZES PARA A VIDA CRISTÃ

O quarto Domingo do Tempo Pascal é chamado também de o “Domingo do Bom Pastor”, posto que nele se lê o Evangelho no qual o Senhor fala dos bons e maus pastores, apresentando-se como o Bom Pastor que veio reunir novamente o rebanho de Deus disperso pelo pecado, mediante o dom de sua própria vida.

O Papa Paulo VI decretou que no quarto Domingo do Tempo Pascal, Domingo do Bom Pastor, fosse celebrada, anualmente, a Jornada Mundial de oração pelas vocações sacerdotais e pela vida consagrada. Portanto, a Igreja nos convida neste Domingo a elevarmos, todos juntos, nossas fervorosas preces ao Dono da colheita (ver Mt 9, 38) por todos aqueles que antes de nascer (ver Jer 1, 5) foram marcados e são chamados a ser, em Cristo, bons pastores para Seu povo, seja mediante o sacerdócio ministerial ou também mediante a vida consagrada a Ele.

Talvez alguma vez tenhamos ouvido falar de que a Igreja atravessa uma grande “crise de vocações”. São, sem dúvida, poucos os católicos batizados que pensam, hoje em dia, em ser sacerdotes ou consagrar sua vida a Deus. Mas ao dizer que se trata de uma “crise de vocações” estaríamos dizendo, em outras palavras, que a diminuição no número de consagrados deve-se ao fato de que Deus esteja chamando menos pessoas. A palavra vocação, recordemos, provém do latim vocare, que significa chamar. Ao dizer que uma pessoa tem vocação ao sacerdócio ou à vida consagrada queremos dizer que Deus, a partir de seu eterno amor (ver Jer 31,3), escolheu-a e chamou-a, que a “marcou” desde sua concepção, criando-a com uma estrutura interior e adornando-a com dons e talentos necessários para a vida sacerdotal ou consagrada, de modo que esse — e não outro — será também seu próprio caminho de realização, de plenitude humana.

O ser humano, homem ou mulher, realiza-se respondendo e seguindo esse chamado ─ que experimenta no mais profundo de seu ser ─  e seguindo o caminho que Deus lhe indica. Por isso é tão importante que todo jovem se detenha diante de Deus e Lhe pergunte seriamente: Para que nasci? Qual é o sentido de minha vida? Qual minha missão no mundo? Qual meu chamado, minha vocação? Para que fui feito? Qual, Senhor, é o caminho que devo seguir? Meu chamado é para o matrimônio? Ou me chamas para o sacerdócio, ou para a vida consagrada? E junto com todos estes questionamentos necessários, deve elevar aquela súplica incessante: “Fala, Senhor, que teu servo, que tua serva escuta” (ver 1Sam 3, 10).

Mas a que se deve esta crise da qual estamos falando? Será que Deus chama cada vez menos? Será que Ele já não quer pastores para seu povo? Será que já não se compadece ao ver tantos que hoje andam no mundo inteiro “como ovelhas sem pastor”? Ou será que temos que procurar a resposta em outro lado?

No meio de uma sociedade materialista, agnóstica (indiferente a Deus), secularista e secularizante (com tendência a aceitar apenas as coisas do mundo, rejeitando a fé e a religião), a maioria dos que experimentam a inquietação e o chamado do Senhor, descartam-no prontamente, por múltiplos raciocínios ou “desculpas”, internas ou externas. O problema não é que Deus tenha deixado de chamar, e sim que os chamados já não respondem, ou respondem cada vez menos. É, pois, um problema de egoísmo por parte dos chamados. Um problema de mesquinharia e de falta de generosidade, de falta de fé e confiança no Senhor, de medo e covardia, de pouco conhecimento de si mesmos. Uma opção por viver na superficialidade da existência, por estar muito centrados em si mesmos, em seus gostos, prazeres e planos pessoais que excluem a Deus. Uma decisão de não se fazer sensível às necessidades de tantos que andam tão vazios, sem sentido pelo mundo, como ovelhas sem pastor.

Abundam mais que nunca os “jovens ricos”, aqueles ou aquelas que escutando em seus corações aquele radical “vem e siga-me” se enchem de medos e preferem aferrar-se a suas “riquezas”, projetos ou seguranças humanas (ver Mc 10, 21-22). São cada vez mais os que se negam a dar o salto porque preferem fixar-se em tudo o que podem perder, em vez de aspirar os “cento por um” e à vida eterna que o Senhor põe em seu horizonte (ver Mt 19, 29). Deus continua chamando, hoje como ontem continua tocando e batendo à porta de muitos corações. Portanto, para ser justos não podemos falar de uma “crise de vocações”, mas sim de uma “crise de resposta à vocação”.

Por outro lado, estão as “modernas” famílias católicas de hoje que já não consideram o chamado de um de seus filhos ao sacerdócio ou à vida consagrada como uma bênção de Deus. Justamente o contrário, muitos pais católicos — às vezes até “de Missa diária” — tomam o chamado de um de seus filhos como uma loucura, um desatino, o fruto de sua imaturidade e, finalmente, como uma maldição de Deus. “Por que te fanatizar tanto — dizem a seu filho ou filha —, se você pode ser um homem ou mulher de bem? Deus não pode te pedir um sacrifício tão grande. Desfruta primeiro a tua vida e conhece o mundo! Primeiro cuide de sua carreira, etc.” Com estes conselhos e raciocínios, aferrando-se aos planos que eles mesmos fizeram para seus filhos — não são eles acaso um dom de Deus? —, convertem-se nos mais férreos opositores de Deus e do chamado que Ele pode estar fazendo a algum de seus filhos. Quantas vocações se perdem pela oposição dos próprios pais!

Rezo em minha família para que o Senhor se digne a chamar algum de meus filhos ou filhas para segui-lO de perto, como se fazia nas antigas famílias que realmente punham o Senhor no centro de suas vidas?’ Imagino o pânico que devem experimentar muitas mães católicas hoje em dia tão somente por lhes propor que rezem para que algum de seus filhos tenha vocação ao sacerdócio ou à vida consagrada!

Graças a Deus há também aqueles jovens que, vencendo todo temor e lançando-se à grande aventura, dizem ao Senhor “aqui me tem, farei o que você me pedir”, perseverando nesse seguimento dia a dia apesar das múltiplas provações, obstáculos, tentações e dificuldades que se lhes apresentam no caminho. Há também pais generosos que respeitando a liberdade de seus filhos incentivam-nos a escutar a voz do Senhor e a segui-lO com generosidade. Também eles sem dúvida receberão do Senhor “o cento por um”, pela imensa generosidade e sacrifício que possa significar para alguns entregar um filho ao Senhor.

Rezemos neste Domingo especialmente pelas vocações ao sacerdócio e à vida consagrada. Rezemos intensamente por todos aqueles que deste modo são abençoados por Deus, para que saibam ser sensíveis a sua voz e saibam responder com decisão, com coragem e generosidade a esse chamado. Rezemos também pela fidelidade de todos aqueles que já responderam ao chamado do Senhor, para que permaneçam sempre fiéis ao seu chamado em meio às múltiplas provas e situações adversas que se lhes possam apresentar. Rezemos por todos eles neste Domingo, mas também a cada dia, especialmente em família. Esta oração é um dever de todo católico coerente e de toda família cristã.

IV. PADRES DA IGREJA

São Gregório: «Ele informa a maneira de ser do bom pastor, para que nós o imitemos. “O bom Pastor dá sua vida por suas ovelhas”. Fez o que aconselhou, manifestou o que mandou, deu sua vida por suas ovelhas, para fazer de seu corpo e de seu sangue um sacramento para nós e para poder saciar com o alimento de sua carne as ovelhas que tinha resgatado. Pôs-nos diante do caminho do desprezo da morte, que devemos seguir, e da forma divina a que devemos nos adaptar. O primeiro que devemos fazer é repartir generosamente nossos bens entre suas ovelhas, e o último dar, se for necessário, até nossa própria vida por estas ovelhas. Mas quem não dá seus bens pelas ovelhas, como há de dar por elas sua própria vida?».

São Cirilo de Alexandria: «O distintivo da ovelha de Cristo é sua capacidade de escutar, de obedecer, enquanto que as ovelhas estranhas se distinguem por sua indocilidade. Compreendemos o verbo “escutar” no sentido de consentir ao que lhe foi dito. E as que O escutam Deus as reconhece, porque “ser conhecido” significa estar unido a Ele. Ninguém é totalmente ignorado por Deus. Porque, quando Cristo diz: “Eu conheço minhas ovelhas”, quer dizer: “Eu as acolherei e as unirei a mim de uma forma mística e permanente”. Pode-se dizer que ao fazer-se homem, Cristo se aparentou com todos os homens, tomando sua própria natureza. Todos estamos unidos a Cristo por causa de sua encarnação. Mas aqueles que não guardam sua semelhança com a santidade de Cristo, tornaram-se estranhos».

São Gregório Magno: «Vejam se são verdadeiramente ovelhas dEle, vejam se de verdade O conhecem, vejam se percebem a luz da verdade. Refiro-me à percepção não pela fé, mas sim pelo amor e pelas obras. Pois o próprio evangelista João afirma também: “Quem diz: ‘Eu conheço Deus’, e não guarda seus mandamentos, mente”. Assim, pois, todo aquele que queira entender o que ouve, apresse-se em praticar o que já pode compreender, (pois) o Senhor não foi conhecido enquanto falou, mas se deixou conhecer quando foi alimentado».

São Cirilo de Alexandria: «“Minhas ovelhas me seguem”, diz Cristo. Com efeito, pela graça divina, os crentes seguem os passos de Cristo. Não obedecem os preceitos da Lei antiga que não era mais que figura [da nova], mas seguem pela graça os preceitos de Cristo. Chegarão às cúpulas, conforme a vocação de filhos de Deus. Quando Cristo sobe ao Céu, eles O seguirão».

V. CATECISMO DA IGREJA

Cristo, Bom Pastor

  1. «Assim a Igreja é o redil[1], cuja única e necessária porta é Cristo. E também o rebanho, do qual o próprio Deus predisse que seria o pastor e cujas ovelhas, ainda que governadas por pastores humanos, são, contudo, guiadas e alimentadas sem cessar pelo próprio Cristo, bom Pastor e Príncipe dos pastores, o qual deu a vida pelas suas ovelhas».
  2. Quanto ao Filho, Ele opera a sua própria ressurreição em virtude do seu poder divino. Jesus anuncia que o Filho do Homem deverá sofrer muito, e depois ressuscitar (no sentido ativo da palavra). Aliás, é d’Ele esta afirmação explícita: «Eu dou a minha vida para retomá-la […] Tenho o poder de dá-la e o poder de retomá-la» (Jo 10, 17-18). «Nós cremos que Jesus morreu e depois ressuscitou» (1 Ts 4, 14).

Cristo atua hoje por meio de seus ministros

  1. No serviço eclesial do ministro ordenado, é o próprio Cristo que está presente à sua Igreja, como Cabeça do seu corpo, Pastor do seu rebanho, Sumo-Sacerdote do sacrifício redentor, mestre da verdade. É o que a Igreja exprime quando diz que o padre, em virtude do sacramento da Ordem, age in persona Christi Capitis – na pessoa de Cristo Cabeça:

«É o mesmo Sacerdote, Jesus Cristo, de quem realmente o ministro faz às vezes. Se realmente o ministro é assimilado ao Sumo-Sacerdote, em virtude da consagração sacerdotal que recebeu, goza do direito de agir pelo poder do próprio Cristo que representa ‘virtute ac persona ipsius Christi’».

  1. Pelo ministério ordenado, especialmente dos bispos e padres, a presença de Cristo como cabeça da Igreja torna-se visível no meio da comunidade dos crentes.
  2. Esta presença de Cristo no seu ministro não deve ser entendida como se este estivesse premunido contra todas as fraquezas humanas, contra o afã de domínio, contra os erros, isto é, contra o pecado. A força do Espírito Santo não garante do mesmo modo todos os atos do ministro. Enquanto que nos sacramentos esta garantia é dada, de maneira que nem mesmo o pecado do ministro pode impedir o fruto da graça, há muitos outros atos em que a condição humana do ministro deixa vestígios, que nem sempre são sinal de fidelidade ao Evangelho e podem, por conseguinte, prejudicar a fecundidade apostólica da Igreja.

VI. OUTRAS REFLEXÕES DA ESPIRITUALIDADE SODÁLITE[2]

«Queria refletir precisamente sobre esse particular «êxodo» que é a vocação ou, melhor ainda, nossa resposta à vocação que Deus nos dá. Quando ouvimos a palavra «êxodo», vem-nos à mente imediatamente o começo da maravilhosa história de amor de Deus com os filhos de seu povo, uma história que passa pelos dias dramáticos da escravidão no Egito, o chamado de Moisés, a libertação e o caminho para a terra prometida. O livro do êxodo ― o segundo livro da Bíblia ―, que narra esta história, representa uma parábola de toda a história da salvação e também da dinâmica fundamental da fé cristã. De fato, passar da escravidão do homem velho à vida nova em Cristo é a obra redentora que se realiza em nós mediante a fé (cf. Ef 4,22-24). Esta passagem é um verdadeiro e real «êxodo», é o caminho da alma cristã e de toda a Igreja, a orientação decisiva da existência para o Pai.

Na raiz de toda vocação cristã encontra-se este movimento fundamental da experiência de fé: crer quer dizer renunciar a nós mesmos, sair da comodidade e da rigidez do próprio eu para centrar nossa vida em Jesus Cristo; abandonar, como Abraão, a própria terra pondo-se a caminho com confiança, sabendo que Deus indicará o caminho para a terra nova. Esta «saída» não deve ser entendida como um desprezo à própria vida, ao próprio modo de sentir as coisas, à própria humanidade; justamente o contrário, quem empreende o caminho seguindo Cristo encontra vida em abundância, ficando à disposição de Deus e de seu reino em tudo. Jesus diz: «quem por mim deixa casa, irmãos ou irmãs, pai ou mãe, filhos ou terras, receberá cem vezes mais, e herdará a vida eterna» (Mt 19,29). A raiz profunda de tudo isto é o amor. Com efeito, a vocação cristã é sobre tudo um chamado de amor que atrai e que se refere a algo além de nós mesmos, desfoca a pessoa, inicia um «caminho permanente, como um sair do eu fechado em si mesmo para sua libertação na entrega de si e, precisamente deste modo, para o reencontro consigo mesmo, mais ainda, para o descobrimento de Deus» (Bento XVI, Carta enc. Deus caritas est, 6).

A experiência do êxodo é paradigma da vida cristã, em particular de quem segue uma vocação de especial dedicação ao serviço do Evangelho. Consiste em uma atitude sempre renovada de conversão e transformação, em um estar sempre a caminho, em um passar da morte à vida, tal como celebramos na liturgia: é o dinamismo pascal».

Mensagem do Papa Francisco para a 52ª Jornada Mundial de Oração pelas Vocações. 26 de abril de 2015.

Vivamos nosso Domingo ao longo da semana

  1. São Gregório nos diz comentando esta passagem: «O primeiro que devemos fazer é repartir generosamente nossos bens entre suas ovelhas, e o último dar, se for necessário, até nossa própria vida por estas ovelhas. Mas quem não dá seus bens pelas ovelhas, como dará por elas sua própria vida?».
  2. Quais são os maus pastores? Leiamos a passagem de Ezequiel 34, 1-16[3]. São todas aquelas pessoas que se esforçam para ser servidas em lugar de servir; que procuram sobressair à custa do irmão; que só olham para si mesmos e não vêem Cristo no rosto do irmão, especialmente, nos mais necessitados. Sou desses?

 

 

[1] Redil = curral, local onde se guardam as ovelhas e cabritos.

[2] Vide estudo completo em: http://razonesparacreer.com/el-buen-pastor-da-la-vida-por-sus-ovejas-2/

[3] Ez 32, 1-16: 1 Recebi de Javé a seguinte mensagem: 2 «Criatura humana, profetiza contra os pastores de Israel, dizendo: Assim diz o Senhor Javé: Ai dos pastores de Israel que são pastores de si mesmos! Não é do rebanho que os pastores deveriam cuidar? 3 Vós bebeis o leite, vestis a lã, matais as ovelhas gordas, mas não cuidais do rebanho. 4 Não procurais fortalecer as ovelhas fracas, não medicais as que estão doentes, não curais as que se feriram, não fazeis voltar as que se desgarraram e não procurais aquelas que se extraviaram. Pelo contrário, dominais com violência e opressão. 5 Por falta de pastor, as minhas ovelhas espalharam-se e tornaram-se pasto das feras. 6 As minhas ovelhas espalharam-se e vaguearam sem rumo pelos montes e vales. As minhas ovelhas espalharam-se por toda a terra, e ninguém as procura para cuidar delas. 7 Por isso, vós, pastores, ouvi a palavra de Javé: 8 Juro por minha vida – oráculo do Senhor Javé: As minhas ovelhas tornaram-se presa fácil e servem de pasto às feras. Não têm pastor, porque os meus pastores não se preocupam com o meu rebanho: só cuidam de si mesmos, em vez de cuidarem do meu rebanho. 9 Por isso, pastores, ouvi a palavra de Javé! 10 Assim diz o Senhor Javé: Vou pôr-Me contra os pastores. Vou pedir-lhes contas do meu rebanho, e não deixarei mais que eles cuidem do meu rebanho. Deste modo, os pastores não cuidarão de si mesmos. Arrancar-lhes-ei da boca as minhas ovelhas e estas deixarão de lhes servir de alimento». 11 «Assim diz o Senhor Javé: Eu mesmo vou procurar as minhas ovelhas. 12 Como o pastor conta o seu rebanho, quando está no meio das suas ovelhas que se haviam dispersado, Eu também contarei as minhas ovelhas e reuni-las-ei de todos os lugares por onde se haviam dispersado, nos dias nebulosos e escuros. 13 Eu retirá-las-ei do meio dos povos e reuni-las-ei de todas as regiões, e fá-las-ei voltar à sua terra. Eu próprio cuidarei delas como pastor, nos montes de Israel, nos vales e em todos os lugares habitados do país. 14 Vou apascentá-las nas melhores pastagens, os seus redis serão nos altos montes de Israel. Poderão repousar num bom redil, e terão pastos abundantes sobre os montes de Israel. 15 Eu mesmo conduzirei as minhas ovelhas para o pasto e fá-las-ei repousar – oráculo do Senhor Javé. 16 Procurarei aquela que se perder, reconduzirei aquela que se desgarrar, curarei a que se ferir, fortalecerei a que estiver fraca. Quanto à ovelha gorda e forte, Eu destruí-la-ei, pois cuidarei do meu rebanho conforme o direito».

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here