IX DOMINGO DO TEMPO COMUM: O Filho do Homem é senhor também do sábado

1948

I. A PALAVRA DE DEUS

1ª Leitura – Dt 5,12-15: Lembra-te de que foste escravo no Egito

Assim fala o Senhor:

12‘Guarda o dia de sábado, para o santificares, como o Senhor teu Deus te mandou. 13Trabalharás seis dias e neles farás todas as tuas obras. 14O sétimo dia é o do sábado, o dia do descanso dedicado ao Senhor teu Deus. Não farás trabalho algum, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem teu escravo, nem tua escrava, nem teu boi, nem teu jumento, nem algum de teus animais, nem o estrangeiro que vive em tuas cidades, para que assim teu escravo e tua escrava repousem da mesma forma que tu. 15Lembra-te de que foste escravo no Egito e que de lá o Senhor teu Deus te fez sair com mão forte e braço estendido.

É por isso que o Senhor teu Deus te mandou guardar o sábado.

Salmo – Sl 80,3-4.5-6ab.6c-8a.10-11b: Exultai no Senhor, a nossa força!

3Cantai salmos, tocai tamborim,
harpa e lira suaves tocai!
4Na lua nova soai a trombeta,
na lua cheia, na festa solene!

5Porque isto é costume em Jacó,
um preceito do Deus de Israel;
6auma lei que foi dada a José,
6bquando o povo saiu do Egito.

6cEis que ouço uma voz que não conheço:
7‘Aliviei as tuas costas de seu fardo,
cestos pesados eu tirei de tuas mãos.
8aNa angústia a mim clamaste, e te salvei.

10Em teu meio não exista um deus estranho
nem adores a um deus desconhecido!
11Porque eu sou o teu Deus e teu Senhor,
que da terra do Egito te arranquei.

2ª Leitura – 2Cor 4,6-11: A vida de Jesus seja manifestada em nossos corpos

Irmãos:

6Deus que disse: ‘Do meio das trevas brilhe a luz’, é o mesmo que fez brilhar a sua luz em nossos corações, para tornar claro o conhecimento da sua glória na face de Cristo. 7Ora, trazemos esse tesouro em vasos de barro, para que todos reconheçam que este poder extraordinário vem de Deus e não de nós. 8Somos afligidos de todos os lados, mas não vencidos pela angústia; postos entre os maiores apuros, mas sem perder a esperança; 9perseguidos, mas não desamparados; derrubados, mas não aniquilados; 10por toda parte e sempre levamos em nós mesmos os sofrimentos mortais de Jesus, para que também a vida de Jesus  seja manifestada em nossos corpos. 11De fato, nós, os vivos, somos continuamente entregues à morte, por causa de Jesus, para que também a vida de Jesus seja manifestada em nossa natureza mortal.

Evangelho – Mc 2,23-28: O Filho do Homem é Senhor também do sábado

23Jesus estava passando por uns campos de trigo, em dia de sábado. Seus discípulos começaram a arrancar espigas, enquanto caminhavam. 24Então os fariseus disseram a Jesus:

─ ‘Olha! Por que eles fazem em dia de sábado o que não é permitido?’

25Jesus lhes disse:

─ ‘Por acaso, nunca lestes o que Davi e seus companheiros fizeram quando passaram necessidade e tiveram fome? 26Como ele entrou na casa de Deus, no tempo em que Abiatar era sumo sacerdote, comeu os pães oferecidos a Deus, e os deu também aos seus companheiros? No entanto, só aos sacerdotes é permitido  comer esses pães’.

27E acrescentou:

─ ‘O sábado foi feito para o homem, e não o homem para o sábado. 28Portanto, o Filho do Homem é senhor também do sábado’.

II. COMENTÁRIOS[1] 

A Liturgia nos faz ler hoje os textos da Bíblia que falam do dia de descanso festivo: o “sábado” dos Judeus e o “domingo” dos cristãos. A santificação do dia do Senhor ocupa um lugar privilegiado na Sagrada Escritura.

Tal como lemos em Dt 5, 12 – 15, foi o próprio Deus quem instituiu as festas do Povo escolhido e quem o instava a observá-las: Guardarás o dia do sábado e o santificarás, como te ordenou o Senhor, teu Deus. Trabalharás seis dias e neles farás todas as tuas obras; mas no sétimo dia, que é o repouso do Senhor, teu Deus, não farás trabalho algum…

Além do sábado, existiam entre os judeus outras festas principais: a Páscoa, o Pentecostes, os Tabernáculos em que se renovava a Aliança e se agradeciam os benefícios obtidos. O sábado, depois de seis dias de trabalho nos afazeres próprios de cada um, era o dia dedicado a Deus em reconhecimento da sua soberania sobre todas as coisas.

No tempo de Jesus, haviam-se introduzido muitos abusos rigoristas, o que originou diversos choques dos fariseus com o Senhor, como o que relata o Evangelho de Mc 2, 23 – 3,6. Num sábado, enquanto atravessavam um campo semeado, os discípulos de Jesus começaram a arrancar espigas. Disseram-lhe os fariseus: Olha, como é que eles fazem em dia de sábado o que não está permitido? … Cristo recorda-lhes que as prescrições sobre o descanso sabático não têm um valor absoluto e que Ele, o Messias, é o Senhor do sábado.

Jesus Cristo teve um grande apreço pelo sábado e pelas festividades judaicas, embora soubesse que, com a sua chegada, todas essas disposições seriam abolidas para darem Iugar a festas cristãs. São Lucas diz-nos que a Sagrada Família ia todos os anos a Jerusalém por ocasião da Páscoa ( Lc 2, 41). Jesus também celebrou todos os anos essa solenidade com os seus discípulos. Vemo-lo, além disso, santificar com a sua presença a alegria de um casamento ( Jo 2, 1 – 11), e na sua pregação emprega frequentemente exemplos de festejos domésticos: o rei que celebra as bodas de seu filho. O banquete pela chegada do filho que havia partido para longe da casa paterna e que retorna ( Lc 15, 23 ). O Evangelho está dominado uma alegria festiva, sinal de que o noivo, o Messias, se encontra já entre os seus amigos.

O próprio Senhor quis, pois, que celebrássemos as festas, interrompendo as ocupações habituais para procurá-lo mediante a participação da Santa Missa e uma oração mais intensa e sossegada, dedicando mais à família e dando ao corpo e à alma o descanso necessário.   O domingo é realmente o dia que o Senhor fez para o regozijo e para alegria (  Sl 117, 24 ).

A Ressurreição do Senhor teve lugar no “primeiro dia da semana”, como testemunham todos os Evangelistas. E na tarde daquele mesmo dia, Jesus apareceu aos seus discípulos reunidos no Cenáculo, mostrando-lhes as mãos e o lado como sinais palpáveis da Paixão. Oito dias mais tarde, isto é, no “primeiro dia da semana” seguinte, apareceu de novo em circunstancias semelhantes ( Cf. Jo, 20).

É possível que o Senhor quisesse indicar-nos que esse primeiro dia devia ser uma data muito particular. Os cristãos entenderam-no assim e desde o início começaram a reunir-se para celebrá-lo, de tal modo que o denominavam o dia do Senhor ( Ap 1, 10),  donde provém a palavra domingo. Os Atos dos Apóstolos e as Epístolas de São Paulo mostram como os nossos primeiros irmãos na fé se reuniam aos domingos para a fração do pão e para a oração, e é isso exatamente o que se continua a fazer até boje ( Cf. ( At 20, 7; 1 Cor 16, 2 ; At 2, 42 ) .

III. LUZES PARA A VIDA CRISTÃ[2]

Para a reevangelização do mundo, é particularmente urgente realizar um apostolado eficaz a respeito da santificação do domingo, um apostolado que penetre nas famílias. Porque há gente que esmorece e chega a perder o espírito cristão por uma maneira errada de descansar nos fins de semana. “É dever dos cristãos a preocupação de fazer que o domingo se converta novamente no dia do Senhor, e que a Santa Missa seja o centro da vida cristã… O domingo deve ser um dia para descansar em Deus, para adorar, suplicar, agradecer, pedir perdão ao Senhor pelas culpas cometidas na semana que passou, pedir-lhe graças de luz e força espiritual para os dias da semana que começa” ( Papa Pio Xll ) e que iniciaremos então com mais alegria e com o desejo de acometer o trabalho com outro entusiasmo.

Não se trata apenas de consagrar genericamente o tempo a Deus, pois isso já se contém no primeiro Mandamento. O que este preceito tem de específico é que manda reservar um dia preciso para o louvor e o serviço de Deus, tal como Deus quer ser louvado e servido.

O descanso dominical – bem como os demais dias de preceito – não pode ser para nós um tempo de repouso cheio de ociosidade insossa, desculpável talvez em quem não a Deus. “Descanso significa represar: acumular forças, ideais, planos… Em poucas palavras: mudar de ocupação, para voltar depois – com novos brios – aos afazeres habituas” (São Josemaria Escrivá, Sulco, 514 ). Trata-se de um “descanso dedicado a Deus”, e, ainda que nos nossos dias se vá assistindo a uma grande mudança de costumes, o cristão deve entender que também hoje “o descanso dominical tem uma dimensão moral e religiosa de culto a Deus”.

[3]O Domingo para os cristãos, que o são de verdade, é dia de ação de graças, de oração, é o dia da comunidade, em que os irmãos em Cristo se reúnem para ouvir a Palavra de Deus, celebrar a Eucaristia, para criar laços de fraternidade e amor. Dia em que devemos estar mais dispostos a parar e falar mais facilmente com Deus, evocar o seu amor e os seus benefícios, fortalecer o espírito com a meditação e o estudo da Palavra de Deus.

Quando o Domingo perde esta dimensão, já não é o dia do Senhor, transforma-se, com frequência, no dia em que o homem folga, mas sem dar a Deus o lugar que Ele deve ter na sua vida.

IV. PADRES e MAGISTÉRIO DA IGREJA

“O Senhor fez todos os dias. Há dias que podem ser dos judeus, dos hereges ou dos pagãos. Mas o dia do Senhor, dia da Ressurreição, é o dia dos cristãos, o nosso dia. Chama-se dia do Senhor porque, depois de ressuscitar no primeiro dia da semana judaica, o Senhor subiu ao Pai e reina com Ele. Se os pagãos o chamam dia do Sol, nós aceitamos de bom grado essa expressão. Nesse dia, ressuscitou a Luz do mundo, brilhou o Sol da justiça”. (São Jerônimo)

“Não ponhais os vossos assuntos temporais acima da palavra de Deus, antes, abandonando tudo no dia do Senhor para ouvir a Palavra de Deus, correi com diligência às vossas igrejas, pois nisso se manifesta o vosso louvor a Deus. Que desculpa terão diante de Deus os que não se reúnem no dia do Senhor para ouvir a palavra de Deus e alimentar-se com o alimento divino que permanece eternamente?” ( Cf. Didaqué, ll, 59, 2– 3 ).

“A Igreja – ensina o Concílio Vaticano II —, por uma tradição apostólica que tem a sua origem no próprio dia da Ressurreição de Cristo, celebra o mistério pascal cada oito dias, no dia que é chamado com razão «dia do Senhor ou domingo»… Por isso o domingo deve ser apresentado e inculcado à piedade dos fiéis como festa primordial, de maneira que seja também dia de alegria e de libertação do trabalho”  (SC[4], 106).

“Deus pode exigir do homem que dedique ao culto divino um dia da semana, para que assim o seu espírito, descarregado das ocupações cotidianas, possa pensar nos bens do Céu e examinar, no íntimo da sua consciência, como andam as suas relações obrigatórias e invioláveis, com Deus” ( São João XXlll, Mater et Magistra ).

V. CATECISMO DA IGREJA

O DIA DO SENHOR

  1. «Por tradição apostólica, que remonta ao próprio dia da ressurreição de Cristo, a Igreja celebra o mistério pascal todos os oito dias, no dia que bem se denomina dia do Senhor ou Domingo». O dia da ressurreição de Cristo é, ao mesmo tempo, o «primeiro dia da semana», memorial do primeiro dia da criação, e o «oitavo dia» em que Cristo, após o seu «repouso» do grande sábado, inaugura o «dia que o Senhor fez», o «dia que não conhece ocaso». A «Ceia do Senhor» é o seu centro, porque é nela que toda a comunidade dos fiéis encontra o Senhor ressuscitado, que os convida para o seu banquete:
  2. O Domingo é o dia por excelência da assembleia litúrgica, em que os fiéis se reúnem «para, ouvindo a Palavra de Deus e participando na Eucaristia, fazerem memória da paixão, ressurreição e glória do Senhor Jesus, e darem graças a Deus, que os “regenerou para uma esperança viva pela ressurreição de Jesus Cristo de entre os mortos”» (46):

«Quando meditamos, ó Cristo, nas maravilhas que tiveram lugar neste dia de domingo da tua santa ressurreição, dizemos: Bendito o dia de Domingo, porque nele teve início a criação […] a salvação do mundo […] a renovação do género humano […]. Foi nesse dia que o céu e a terra se congratularam e que todo o universo se encheu de luz. Bendito o dia de Domingo, porque nele foram abertas as portas do paraíso, para que Adão e todos os deportados nele entrassem sem temor» (Fanqîth).

  1. A Igreja impõe aos fiéis a obrigação de «participar na divina liturgia nos domingos e dias de festa» e de receber a Eucaristia ao menos uma vez em cada ano, se possível no tempo pascal preparados pelo sacramento da Reconciliação. Mas recomenda-lhes vivamente que recebam a santa Eucaristia aos domingos e dias de festa, ou ainda mais vezes, mesmo todos os dias.

O DOMINGO – REALIZAÇÃO DO SÁBADO

  1. O domingo distingue-se expressamente do sábado, ao qual sucede cronologicamente, em cada semana, e cuja prescrição ritual substitui, para os cristãos. O domingo realiza plenamente, na Páscoa de Cristo, a verdade espiritual do sábado judaico e anuncia o descanso eterno do homem, em Deus. Porque o culto da Lei preparava para o mistério de Cristo e o que nela se praticava era figura de algum aspecto relativo a Cristo:

«Os que viveram segundo a antiga ordem das coisas alcançaram uma nova esperança, não guardando já o sábado mas o dia do Senhor, em que a nossa vida foi abençoada por Ele e pela sua morte».

  1. A celebração do domingo é o cumprimento da prescrição moral, naturalmente inscrita no coração do homem, de «prestar a Deus um culto exterior, visível, público e regular, sob o signo da sua bondade universal para com os homens» (94). O culto dominical cumpre o preceito moral da Antiga Aliança, cujo ritmo e espírito retoma, ao celebrar em cada semana o Criador e o Redentor do seu povo.

A EUCARISTIA DOMINICAL

  1. A celebração dominical do Dia e da Eucaristia do Senhor está no coração da vida da Igreja. «O domingo, em que se celebra o mistério pascal, por tradição apostólica, deve guardar-se em toda a Igreja como o primordial dia festivo de preceito».

«Do mesmo modo devem guardar-se os dias do Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo, Epifania, Ascensão e santíssimo corpo e sangue de Cristo, Santa Maria Mãe de Deus, sua Imaculada Conceição e Assunção, São José e os Apóstolos São Pedro e São Paulo, e finalmente o de todos os Santos».

  1. Esta prática da reunião da assembleia cristã data dos princípios da idade apostólica. A Epístola aos Hebreus lembra: «Sem abandonarmos a nossa assembleia, como é costume de alguns, mas exortando-nos mutuamente» (Heb 10, 25).

A Tradição guarda a lembrança duma exortação sempre atual: «Vir cedo à igreja. aproximar-se do Senhor e confessar os próprios pecados, arrepender-se deles na oração […], assistir à santa e divina liturgia, acabar a sua oração e não sair antes da despedida […]. Muitas vezes o temos dito: este dia é-vos dado para a oração e o descanso. É o dia que o Senhor fez: nele exultemos e cantemos de alegria» (Pseudo Eusébio de Alexandria).

VI. TEXTOS DA ESPIRITUALIDADE SODÁLITE[5]

A Eucaristia

Além do nosso Batismo,  sacramento primeiro que é a porta de entrada para todos os outros sacramentos, o meio por excelência para nutrirmo-nos da força divina no processo contínuo de conversão e amadurecimento que estamos chamados a percorrer diariamente é a Eucaristia. Nela é o próprio Cristo que se faz realmente presente, quando pelas palavras de consagração do sacerdote e da ação do Espírito Santo um simples pão e um pouco de vinho são transformados em seu próprio Corpo e Sangue. Desta maneira,  tornam-se para nós alimento e bebida que nos nutrem e fortalecem em nosso peregrinar.

A Eucaristia nos enche da força de Cristo, porque nos enche do próprio Cristo! Por ela, entramos em comunhão com o Senhor, pois como Ele disse, «quem come a minha Carne e bebe o meu Sangue, permanece em mim, e eu nele». E quem, além disso, coopera generosamente com esta graça que recebe em abundância na Comunhão, experimenta em si uma vitalidade que o impulsiona a viver a perfeição da caridade, e o lança incansavelmente ao apostolado, a anunciar Cristo, que carrega dentro de si. Assim, permanecendo em comunhão com o Senhor e celebrando com a graça recebida, «dá muito fruto».

A participação plena, consciente e ativa na celebração da Santa Eucaristia, de maneira especial no Domingo, Dia do Senhor, assim como também em qualquer outro dia da semana, nos fortalece e alenta na vida cristã e em sua expressão no apostolado.

PARA MEDITAR[6]:

  • E nós, com que espírito vivemos o Domingo?
  • Como celebramos a Eucaristia?
  • Temos consciência de que, com o sacerdote, somos uma comunidade celebrante?

[1] Extraído de http://www.presbiteros.org.br/homilia-de-mons-jose-maria-pereira-ix-domingo-do-tempo-comum-ano-b/

[2] Extraído de http://www.presbiteros.org.br/homilia-de-mons-jose-maria-pereira-ix-domingo-do-tempo-comum-ano-b/

[3] Extraído de https://paroquiasaoluis-faro.org/3-de-junho-de-2018-9o-domingo-do-tempo-comum-ano-b/

[4] SC – Constituição Sacrosanctum Concilium, sobre a Sagrada Luturgia

[5] Extraído do Caminhos Para Deus #109

[6] Extraído de https://paroquiasaoluis-faro.org/3-de-junho-de-2018-9o-domingo-do-tempo-comum-ano-b/

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