“Oração para a vida e o apostolado, vida e apostolado feitos oração”. Esta frase busca resumir uma espiritualidade da ação, que integra duas realidades que muitas vezes aparecem como contrapostas: a oração e a ação. Hoje buscamos nos mistérios gozosos algumas luzes sobre como viver essa síntese em nossas vidas, guiados por Maria.
Primeiro mistério: a anunciação-Encarnação
“Disse então Maria: “Eu sou a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra!” E o Anjo a deixou” (Lc 1,38)
É necessário dedicar-se exclusivamente à oração em alguns momentos como condição para poder viver constantemente em oração (Cf. Caminho para Deus, 92) . O diálogo com o Anjo pode ser comparado a um momento forte de oração. A naturalidade com a qual Maria dialoga, pergunta e responde, revela uma pessoa acostumada a gastar parte do seu tempo exclusivamente na oração. A oração é também uma arte, na qual Maria mostra maestria. E nós, temos esta mesma experiência? Ou nos sentimos desajeitados nesses momentos fortes de oração, sem saber o que dizer, ou o que pensar, ou às vezes pensando ou dizendo muito, sem capacidade para ouvir o que Deus quer nos dizer?
Segundo mistério: a Visitação
“Maria então disse: “Minha alma engradece o Senhor, e meu espírito exulta em Deus em meu Salvador”” (Lc 1,46).
O gesto de Maria de visitar a sua prima Isabel é fruto da sua vida de oração. Aqui vemos como a ação se nutre da oração. Ao mesmo tempo, a experiência de apostolado leva Maria a entoar o seu Cântico, que é uma bela oração a Deus. Nisto percebemos que a ação também alimenta a oração, porque são as nossas experiências as que levamos, nesses momentos fortes de oração, ao coração de Deus. Mas para fazer isso é necessário que sejamos mais atentos, conscientes, buscadores do sentido que cada acontecimento tem em nossa caminhada. Maria é também mestra nessa busca, mostrando em seu Cântico que entende a sua vida no contexto do grande sentido da história da salvação do Povo de Israel.
Terceiro mistério: Viver em presença de Deus
“Foram então às pressas, e encontraram Maria, José e o recém-nascido deitado na manjedoura” (Lc 2,16).
O Senhor Jesus, nascido em Belém, é Deus que se fez homem para nos salvar. Graças a Maria e a José, que responderam com um Sim à missão que Deus lhes encomendou, Deus encontrou entre os homens um lar, uma família que o acolhe e lhe dá todo o necessário para seu amadurecimento humano. Jesus é Deus conosco, que amou com coração humano e trabalhou com mãos humanas. Viver em presença de Deus é ser como Maria e como José, dizendo Sim à iniciativa de Deus, que quer fazer parte da nossa vida, não só por momentos, senão sempre.
Quarto mistério: Apresentação no templo
“Quando se completaram os dias para a purificação deles, segundo a Lei de Moisés, levaram0no a Jerusalém a fim de apresenta-lo ao Senhor” (Lc 2,22).
Maria apresenta no Templo Jesus, o fruto do seu ventre, ensinando-nos também a oferecer todas as nossas vidas a Deus. Um dos aspectos da espiritualidade da ação é a renúncia aos frutos, pela qual, como Maria reconhecemos com gratidão que tudo o que é bom nos vem de Deus. Essa renúncia nos ajudará a nunca desesperar, mesmo quando chegarem momentos difíceis, em que muitas coisas chegarem a faltar. Maria nos dá exemplo disso. No futuro subirá a Jerusalém, para acompanhar Jesus na Paixão, repetindo o mesmo gesto de apresenta-lo ao Pai ao pé da Cruz.
Quinto mistério: Jesus entre os doutores
“Ele respondeu: “Por que me procuráveis? Não sabíeis que devo estar na casa de meu Pai?” Eles, porém, não compreenderam a palavra que ele lhes dissera” (Lc 2,49).
Esta passagem resulta incompreensível se lida apenas horizontalmente, mundanamente. Pareceria que Jesus trata injustamente os seus pais. Muitas vezes a radicalidade do Evangelho nos desafia, porque os critérios que ele nos apresenta chocam com os do mundo. A família é certamente algo muito bom e querido por Deus. Porém, até mesmo a família pode tornar-se um empecilho, quando ela nos afasta de Deus. Jesus disse numa ocasião: “Eu não vim trazer a paz, mas a espada”, fazendo referência a esse caráter exigente, radical do Evangelho. Em outra ocasião, falando de João Batista, disse: “São os violentos os que alcançam o Céu”. E também nos diz o Apocalipse: “Vomitarei os mornos da minha boca”. São Paulo também dizia aos cristãos: “Não vos conformeis ao mundo e aos seus critérios”. Estamos no mundo, mas não somos do mundo. Somos no mundo sinal de contradição, sal que não pode perder seu sabor. Mas para isso, é necessário viver num processo constante de conversão, de mudança de critérios, para pensar cada dia mais como Cristo e também sentir e agir como Ele.