O dízimo, as oferendas e o desapego

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A Bíblia já alertava do perigo em relação ao ‘deus dinheiro’ quando nos dizia ser impossível servir a dois senhores, pois adoraremos a um e odiaremos o outro. É impossível, diz a Sagrada Escritura, servir a Deus e ao dinheiro. Nesse sentido, o Papa Francisco chegou inclusive a dizer em uma homilia que a conversão é certa quando chega ao bolso. Certamente ele não quis dizer que na Igreja pagamos para conseguir a conversão ou a salvação, mas manifestar que em um mundo que idolatra o dinheiro, mostrar um certo desapego em relação a ele pode ser um sinal positivo.

Mas mesmo assim, o tema parece ser tabu em muitas realidades eclesiais. Pedir o dízimo é muitas vezes uma atividade incômoda para quem pede e fastidiosa para quem ouve repetidamente os pedidos. Como fazer para aproximar-nos de forma mais reconciliada a esse assunto? Talvez uma rápida olhada ao Antigo Testamento e ao que mudou com a chegada de Jesus possa nos ajudar a entender um pouco melhor.

Na antiga aliança é muito clara a obrigatoriedade do pagamento do dízimo. Ele servia para sustentar os sacerdotes que oficiavam no Templo (e mais antigamente na Tenda) os sacrifícios a Deus e também era utilizado para ajudar as pessoas mais necessitadas como os pobres e as viúvas. Ele era composto principalmente por produtos agrícolas, não dinheiro. No Novo Testamento muda-se o cenário porque Jesus mostra que dar pleno cumprimento à Lei é viver sob a ótica do amor.

No Catecismo da Igreja Católica, por exemplo, não se fala do dízimo propriamente. Mas quando fala do quinto mandamento da Igreja (“Ajudar a Igreja em suas necessidades”) lembra que os fiéis precisam ir ao encontro das necessidades materiais da Igreja, cada um conforme as próprias possibilidades. Assim fica claro que o dízimo, como pagamento de 10%, não é o centro de toda essa questão. O importante é a consciência do cristão de ser responsável por ajudar sua comunidade. Preocupar-se de que os ministros vivam dignamente, que a Igreja seja um local apropriado para o culto, e que os pobres sejam assistidos em suas necessidades. Em suma, que se preocupe com sua comunidade de maneira análoga com que se preocupa com sua família.

E essa consciência pode se fazer concreta de várias formas. Doando uma quantia mensal que brote de uma espontânea generosidade, doando a cada missa no momento do ofertório ou ajudando em atividades pontuais como a reforma de um espaço, a aquisição de cestas básicas para o Natal, etc.

No ofertório durante a celebração Eucarística podemos entender de forma mais profunda essa generosidade que estamos chamados a viver. Nesse momento, o sacerdote está preparando a mesa para atualizar o maior dos sacrifícios, o de Jesus que se entrega por amor. E nós, seja levando o pão e o vinho até o altar, seja fazendo a nossa doação material, mostramos a nossa participação nesse mistério e nessa entrega de Jesus. O que fazemos é sempre muito pouco, mas se colocamos esse pouco nas mãos de Deus, Ele multiplica esses dons de forma extraordinária e faz com que eles deem frutos de conversão e de santidade para nós e para o mundo inteiro.

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