O meu lugar no Presépio

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Caro amigo, nestes dias em que um Presépio enfeita a sua casa, lembrando aquela noite grandiosa, em que Jesus nasceu em Belém, gostaria que não passasse indiferente diante das imagens, mas que se detivesse um momento para contemplar essa cena que tem tantos ensinamentos para todos nós.

Se você tivesse que escolher uma das imagens como aquela que mais expressa quem você é e o momento pelo qual está passando, o ano que você teve até aqui, qual você escolheria?

Desde criança tenho feito este exercício, no início de forma um pouco inconsciente, simplesmente escolhendo a minha figura favorita. Com o tempo fui descobrindo que essa escolha não era apenas uma questão de gosto, mas expressão da minha situação na vida no momento da escolha.

Trata-se de um exercício que se fundamenta na seguinte verdade da nossa Fé: não importa a situação na qual nos encontremos; Jesus sempre nos espera, sempre bate à nossa porta, e nós, por mais complicada que seja a nossa situação, podemos responder, podemos atender ao seu chamado, como fizeram, de distintas formas, os personagens do Presépio.

 

O burro e o boi (O trabalho, o cansaço).

A tradição colocou no Presépio estas personagens, que fazem parte do Reino Animal. São animais também ligados ao mundo do trabalho no campo. O burro é um animal de carga e transporte. O boi ajuda a arar a terra. O burro provavelmente carregou Maria na viagem até Belém. O boi provavelmente já se encontrava no local, perto da lavoura.

Por serem animais, eles não podem falar, e muito menos cantar, como os anjos e os homens, pelo acontecimento. Mas podem sim, com a sua presença silenciosa, dar calor ao recém-nascido na noite fria de Belém.

Quiçá hoje você se sinta um pouco como o boi e o burro, muito cansado depois de longas jornadas de trabalho. Cansado até para falar e cantar. Quiçá você hoje precise simplesmente contemplar o Menino, estar perto dele, dar-lhe calor.

Espero que você descubra, acompanhando o Menino, Maria e José, que ao dar calor é você quem é aquecido, por um coração imenso que lhe ama e lhe conforta, que anos depois dirá: “Vinde a mim vós que estais cansados e atribulados, porque em mim encontrareis descanso”.

 

Os pastores com as suas ovelhinhas (O apostolado).

Os pastores representam no presépio pessoas simples e pobres de coração. Ao mesmo tempo são pessoas acostumadas a viver solitariamente, em lugares silenciosos, enquanto acompanhavam o rebanho. Os longos períodos de solidão e silêncio eram para eles ocasião para a oração, para meditar na Palavra de Deus e nas suas promessas. Ao mesmo tempo, a relação entre o pastor e as ovelhas foi usada por Jesus para simbolizar a sua relação com cada um de nós. O verdadeiro pastor dá a vida pelas suas ovelhas, nunca as abandona, sobretudo nos momentos de perigo, como quando o lobo ataca. Ele nunca desiste de nenhuma das ovelhas, até mesmo daquela que dá mais trabalho, aquela que costuma abandonar o rebanho e perder-se no caminho. Pelo contrário, para salvar essa o pastor está disposto a deixar atrás todas as outras, para recuperar a perdida.

Quiçá você chega hoje ao Presépio preocupado por alguém próximo, alguém que depende de você de alguma forma: um filho, um idoso, um afilhado, um sobrinho, um aluno, alguém a quem você faz apostolado. Quiçá você sofre porque essa pessoa também sofre ou passa por dificuldades, porque está afastada de Deus ou está doente. Esta experiência é típica do pastor. Todos nós podemos e estamos chamados a ser pequenos pastores, ajudando ao Bom Pastor, que é Jesus e à Boa Pastora, que é Maria.

Caro amigo, pequeno pastor, Deus não se esqueceu de você nem das ovelhinhas que lhe encarregou cuidar. Ao sofrer por elas, você sofre com Jesus, Pastor de todos. Espero que ao olhar para o Menino Recém-Nascido, Pastor da humanidade, você recobre ânimos e esperança para continuar com a sua missão. Ele conta com você, com a sua fragilidade de vaso de barro, e nunca se esquece que também você é uma das suas ovelhinhas.

 

Os sábios do oriente (Os que estão longe).

Caro amigo, quiçá ao olhar hoje para o presépio, que você não montou, mas outro membro da família ou um amigo, você se ache longe, muito longe do acontecimento que ele representa. Você não se sente, certamente, um dos pequenos e simples, aqueles pobrezinhos que acolheram prontamente a mensagem de Jesus. Pode ser que você seja, ou esteja a caminho de ser um dos grandes e sábios, que acumulam títulos e vitórias, que sabem como fazer as coisas acontecerem.

Porém, alguma coisa fez com que hoje você parasse para olhar essa singela cena, a do nascimento de Jesus. O Arcebispo Fulton Sheen dizia que os que acolheram Jesus foram ou aqueles que sabiam que não sabiam nada (os simples e pobres) ou os que sabiam que não sabiam tudo (os sábios). Os sábios do oriente, que a tradição identifica com Baltasar, Melchior e Gaspar, são desses que sabem que não sabem tudo. E também sabem, como todo homem que busca a verdade com coração sincero, não só sobre o mundo em sua volta, mas, sobretudo sobre si mesmo, que o homem não é autossuficiente, que precisa um Salvador.

Estes homens percorreram uma longa distância, à diferença dos pastores, seguindo uma estrela que era sinal do nascimento de um Salvador para a humanidade. Quiçá hoje você também sinta a necessidade de percorrer esse caminho, cujo desfecho é o gesto de adoração dos Sábios do oriente.

Dizem as Escrituras que, ao reverem a Estrela, perto de Belém, os Sábios sentiram uma profunda alegria. Quiçá hoje seja essa alegria profunda e simples a que seu coração esteja precisando, uma alegria que nada no mundo, mas somente a Fé pode nos dar. Depois do encontro com o Menino, a quem adoram e entregam presentes, os sábios voltam por outro caminho, não pelo mesmo que vieram. Desejo a você que neste Natal possa se encontrar com Deus que sempre bate à sua porta, enviando não só uma, mas várias estrelas para guia-lo no caminho. E que esse encontro seja para você realmente transformador, enchendo a sua vida de paz, amor e esperança.

 

São José (Novas responsabilidades).

Gosto muito da tradição que retrata a José como um homem jovem, devido à prontidão das suas reações e às longas distâncias que teve que percorrer que requeriam ótima disposição e energia física.

Quanta responsabilidade nos ombros de um homem jovem! E como responde, sem tirar o corpo, sem esconder-se, mas com um coração grande e generoso!

Quiçá hoje, querido amigo, ao contemplar o presépio, você se identifique com esse jovem de Nazaré que recebeu uma nova missão, um novo encargo, que fugia totalmente aos seus planos, mas que assumiu a partir da sua grande Fé e coração justo.

Nossa vida está cheia de mudanças de rumo, novos desafios, novas missões. Pode ser esta hoje a sua situação e a tentação do medo e da falta de confiança em Deus pode estar rondando seu coração. Ânimo! São José é hoje para você um exemplo e um intercessor. Ele sentiu também a pequenez diante de uma grande missão, e até mesmo a frustração por não oferecer um melhor lugar para receber Jesus, a tristeza por ver que muitos não tinham lugar para Ele.

Saiba que nesse novo desafio, nessa nova missão que terá que assumir você não está sozinho, que Deus te acompanha e te guia. Saiba também que sentir e apalpar a própria pequenez e limitação diante da grandeza da missão é um presente de Deus, para que você confie e se aproxime cada dia mais a Ele.

 

Santa Maria (O sim a Deus).

Confesso, meu caro amigo, que poderia passar horas olhando para a imagem de Santa Maria. Como enche meu coração de esperança e alegria ver essa jovem mulher que sempre diz sim ao Plano de Deus e que se define a si mesma como a Serva do Senhor e que o Anjo chama “Cheia de graça”.

Quiçá este ano que termina tenha sido um ano muito bom para você, de crescimento na Fé, de ter pronunciado em vários momentos importantes seu “sim” ao Plano de Deus. Louvado seja Deus por isso! Com certeza esses passos renderão abundantes frutos!

Contudo, veja a humildade daquela que é a Mãe do Senhor e nossa. Veja como Ela nunca reclama pela precariedade da sua situação. Lembre-se o que o próprio Jesus disse aos seus discípulos: “Mesmo que tenham feito tudo o que Deus pediu, considerem-se servos indignos e pensem: fizemos apenas o que tínhamos que fazer”.

É assim que nos tornamos como Maria verdadeiros apóstolos, lentos para julgar o próximo, sempre dispostos para acolher e consolar, para guiar todos a Jesus, nunca conformando-nos com o que alcançamos até agora, mas olhando para adiante, em busca da coroa imperecível da qual falava São Paulo, o apóstolo dos Gentios.

 

O Menino Jesus deitado na manjedoura (O sofrimento).

Muitos são os que sofrem no corpo, na alma ou no espírito. Muitas as vítimas das guerras, da fome, da miséria, das doenças. Quiçá seja hoje você uma destas pessoas ou alguém muito próximo delas. O Menino deitado na manjedoura lembra-nos que a Luz que veio iluminar as trevas não foi recebida, mas rejeitada. Jesus não foi bem recebido, mas sofreu rejeição e perseguição, cujo desfecho é a Cruz. Ele nos mostra, porém, que esse sofrimento não é carente de sentido. Pelo contrário, é precisamente o meio que ele escolheu para salvar a humanidade. Ele quis unir-se com cada homem e mulher que sofre, convidando-os a ajuda-lo, com seu sofrimento, a salvar a humanidade.

Por outro lado, sabemos que a Cruz não é a última palavra na história desse Menino, que hoje está deitado na Manjedoura, mas o Domingo de Ressurreição, a sua vitória sobre o pecado e a morte e o abraço carinhoso com o Pai e o Espírito Santo, que também esperam por você.

Eu quero dizer para você, meu caro amigo, que hoje sofre, e está prostrado numa cama de hospital, ou num abrigo para refugiado, ou em algum lugar que lembra a precariedade do presépio: Você é hoje outro Jesus, outro Menino deitado na manjedoura. Você é muito amado por Deus!

Espero que você possa reconhecer no seu sofrimento um caminho para ser amigo de Jesus, para ajuda-lo como mais ninguém pode fazer na missão de salvar mais pessoas, seus semelhantes, para que mais possam abrir seus corações à sua mensagem.

E se você não é daqueles que passam por essa difícil situação, que esta meditação seja um chamado para acompanhar e manifestar afeto e proximidade para com aqueles que sofrem. Não seja indiferente ao Menino deitado na manjedoura! Não seja indiferente ao seu irmão que sofre! Seja generoso sempre com seu tempo e com seus bens materiais. Ponha seus dons e talentos ao serviço dos que sofrem! Que você ofereça sempre abrigo ao Menino na fria noite de Belém!

 

Conclusão.

Vamos chegando ao fim das nossas meditações. Como a experiência humana é sempre única, é possível que não tenha conseguido retratar a sua experiência atual, o que você está passando. Ou quiçá você tenha um pouco do que cada uma das imagens do Presépio expressa. De qualquer forma, uma coisa é certa: o Natal nos ensina que Deus não está longe, mas quis se fazer “Deus conosco” em Jesus, o Menino nascido em Belém. Com essa certeza, espero de coração que você, como eu, possa encontrar seu lugar perto da manjedoura para sentir hoje com força a grandeza do amor de Deus por você, sem importar a situação pela qual você está passando.

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