O que ostentam os cristãos?

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Por João Antonio Johas Leão

É comum hoje em dia escutar o verbo ostentar fazendo referência a uma espécie de demonstração gratuita daquilo que se possui e se julga valioso. É triste ver que muitas dessas coisas ostentadas são, na realidade, coisas tão supérfluas que poderíamos até nos perguntar porque estão sendo ostentadas. E penso que podemos encontrar um ponto de vista muito iluminador se buscamos pensar desde a perspectiva de Deus. E é que sem Ele, aquelas velhas concupiscências do ter, do poder e do prazer, acabam se tornando os bens mais valorizados e, portanto, ostentados.

Se algo podemos tirar de positivo dessa realidade é o fato de que ainda percebemos interiormente que o que nos é valioso, precisa, como que por um impulso, ser compartilhado. Mas desde uma visão católica, essa realidade dá um giro de 360 graus. Como assim? Se ostentar significa colocar a vista algo valioso que possuímos, os cristãos possuem coisas de sobra para ostentar, mas talvez possamos reunir todas elas na experiência de saber-nos amados por Deus de maneira pessoal.

Em Jesus fomos feitos filhos e filhas de Deus. Pelo Batismo entramos para a família de Deus. Esse é o nosso maior tesouro, que precisa ser “ostentado” para os quatro cantos do mundo. “Ide por todo o mundo e anunciai o Evangelho a todas as criaturas”, essa é a missão que Jesus nos pede. Em outra passagem ele diz: “não se acende uma candeia para colocá-la debaixo de um cesto. Ao contrário, coloca-se no velador e, assim, ilumina a todos os que estão na casa. ” Em outras palavras ele está dizendo que não podemos deixar escondido esse tesouro que recebemos gratuitamente, poderíamos dizer que Ele quer que “ostentemos” isso.

Mas é preciso tomar cuidado com essa palavra ostentar para não causar confusão. Se hoje em dia se ostentam coisas por vaidade e sem preocupação para com o próximo, aliás, muitas vezes como meio para dizer “eu tenho e sou melhor que quem não tem”, a maneira como o cristão mostra o que tem de melhor é à maneira de Jesus, que sendo Deus, nasce em uma manjedoura, que vai até os pecadores e humilhados, que se aproxima daqueles que “nada tem” para mostrar-lhes sua dignidade infinita.

O apostolado que fazemos nunca deve ser desde uma posição mais alta, como quem sabe mais ou como quem é melhor que o outro, assim como Cristo veio do céu para estar conosco e mostrar-nos o amor do Pai, também nós precisamos nos aproximar dos outros, das misérias, das fraquezas, das humilhações, e desde lá, resgatar o máximo de pessoas para o amor misericordioso de Deus. Ajuda muito nesse sentido a consciência de que nós também fomo encontrados pessoalmente por Cristo e que só sabemos que outros precisam dele porque nós mesmos somos os primeiros a sentir-nos necessitados dessa misericórdia.

Se podemos chamar assim, a ostentação do cristão é viver uma autêntica vida cristã, transmitindo essa experiência pessoal com Deus aos demais sem medo de ser rejeitado e com a reverência necessária para fazer-se próximo daqueles que precisam, sem se achar melhor do que ninguém, mas sem negar ser possuidor de um tesouro infinito que foi depositado nesses vasos de barro que somos cada um de nós.

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