Os santos são desapegados? O que significa ser desapegado?

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Ser desapegado. É muito interessante como algumas palavras conseguem entrar para o nosso vocabulário quase que “da noite para o dia” e parecer que sempre estiveram lá, que fazem parte do nosso estilo de vida. Poucos realmente se interessam em saber o que significam ou se realmente é compatível com a própria filosofia de vida. Simplesmente soa bonito e, portanto, deve ser algo positivo. No caso do “ser desapegado”, pode inicialmente se mostrar em concordância com o Evangelho, mas em que sentido o cristão é chamado a se desapegar? Se olharmos a vida de alguns santos, poderemos ter uma ideia melhor.

Pesquisando na Internet sobre esse ser desapegado, pode-se encontrar uma imensa variedade de sites que supostamente ensinam o desapego a tudo. O desapego do dinheiro, dos objetos materiais, das outras pessoas e até mesmo o desapego espiritual. O ponto em comum que todos esses sites parecem ter é que colocam a felicidade do ser humano em não depender de nada nem de ninguém. E é aí que, ao meu ver, mora o perigo. Como assim? É que na realidade, nós não somos independentes e esse ideal de viver desapegados de tudo se mostra como uma ilusão.

Somos dependentes, em primeiro lugar, de Deus que nos criou e que nos conserva vivos. Quando somos crianças, somos completamente dependentes da providência de nossos pais. Quando adultos, somos dependentes dos outros seja para trabalhar e ganhar dinheiro, seja simplesmente pela necessidade que temos de relacionamentos verdadeiros e amizades profundas. Não fomos criados para o isolamento, para o total desapego e independência. Pelo contrário, fomos criados de tal forma que nos vemos necessitados de muitas coisas, materiais, pessoais e espirituais.

Mas e os santos? Não são eles pessoas desapegadas de tudo? Peguemos São Francisco de Assis, que talvez seja um exemplo paradigmático conhecido pela maioria das pessoas. Filho de mercadores ricos, deixa tudo, inclusive as roupas do próprio corpo, para viver mendigando. Desde um ponto de vista podemos dizer que sim, ele é bem desapegado. Mas desde outro ponto de vista, o da fé, podemos ver claramente que o que fez Francisco foi optar com radicalidade pela dependência mais profunda de todos nós, a de Deus. Ninguém diria que Francisco se desapegou de Deus. Pelo contrário!

E é isso que precisamos aprender. Desapegar-se por desapegar-se é vazio e nos leva a um isolamento anti-humano muito parecido com o que a teologia diz que é o inferno, um sofrer eternamente a solidão de não estar na presença de Deus. O desapego do cristão é uma resposta ao chamado de Jesus, de vender tudo, dar aos pobres e segui-lo. Ou ainda, é o desapego daquele que encontrou um tesouro valioso, pelo qual vende tudo o que possui a fim de comprá-lo. Em outras palavras, é colocar em ordem os nossos apegos. O apego a Deus em primeiro lugar, que acaba colocando todos os outros apegos de forma ordenada em seu lugar.

Não deixemos que essa ou qualquer outra palavra entre na nossa vida sem o devido exame daquilo que ela de verdade nos propõe. Elas podem parecer muito bonitas e até possuírem um aspecto de verdade, como nesse caso, mas podem também esconder algumas realidades que não estão de acordo com a vida cristã que queremos levar. É preciso ter cuidado e atenção para não acabarmos comprando aquele famoso gato por lebre.

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