Pedagogia e mundo atual

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Vivemos em um mundo que se modifica. E não é qualquer mudança. É acelerada. Descaradamente. E todos os dias parece que tudo voa a 500 km por hora e as exigências trabalhistas, sociais, fraternais, e muitos outros “ais” parece que crescem à mesma velocidade. É compreensível que muitas pessoas sofram do fenômeno da fuga. Quer dizer, este trem vai tão rápido e é tão difícil estar nele sem perder a cabeça, que é melhor não subir. Melhor ficar à margem. Fujamos disto, enquanto se pode. Assumamos as menores responsabilidades possíveis. Se for zero, melhor ainda. E o problema é que muitos pais e esposos, nem todos, é claro, mas muitos, sim, interiormente também assumem assim a experiência de ter e educar os filhos. Melhor não subir no trem.

Pois verdadeiramente, quando nos pomos a pensar no que significa realmente assumir a responsabilidade de educar um ou mais filhos, os cabelos ficam em pé. É compreensível que muitos não queiram nem pensar nisso. Ou em todo caso, pois tentemos com um, mas dois já são multidão. Dois ou mais? Seria como educar toda a república da China. Melhor nem pensar. Nem sonhe! É triste isto.

Alguns dirão: claro, isso é o senhor que diz (porque nem me tratam com proximidade), porque é um sacerdote e não tem filhos. Físicos, digamos. Mas não tem. Não lhes dá de comer, não os leva ao médico, não troca as fraldas. É muito fácil dizer isso, padreco. E não lhes falta razão. Mas digo-lhes que podem contar comigo para o que seja. Até para trocar fraldas. E não retruco. E digo-lhes também que podem não acreditar, mas minha vida também é dura (embora não pareça tanto) e que também tenho que cuidar de muita gente. Não me atrevo a chamá-los de filhos, porque acredito que não cuido deles como deveria. Não lhes falta razão porque os vejo de fora e porque a única coisa que tive que fazer em relação às tarefas da casa foi ajudar uma de minhas irmãs a adormecer seus três filhos de 10, 6 e 3 anos, respectivamente. Menino, menina e menino. Adormecê-los. É mole, minha irmã me disse. Diga-lhes que coloquem o pijama e que durmam. Doce ilusão! Ilusão total. Nunca pensei que “por as crianças pra dormir” daria tanto trabalho. Tanto trabalho… e assim é todos os dias! E era “só” adormecê-los. Nesse momento compreendi que os pais são os verdadeiros heróis da história e que os que assumem essa responsabilidade com todo o coração, merecem ser canonizados mais rápido que Santo Antônio de Pádua (para curiosidade dos que me lêem, o santo casamenteiro está no pódio do Guinness em termos de canonização. E realmente é poderoso construindo matrimônios. Depois não o culpem).

Falando em responsabilidades, que é o que me levou a escrever estas linhas, diria que a maior responsabilidade que os pais recebem junto com seus filhos é uma muito particular. A cegonha vem com um pacote e um envelopinho. No pacote está seu filho esperado, enviado como um dom do alto, e no envelopinho diz: “Aos neo-pais: imploro a vocês que, acima de tudo, sejam MODELOS. Entendam isso e cumpram essa missão desde hoje mesmo”. Ser modelos para os filhos. Essa é a maior e mais formosa responsabilidade. Têm que ser modelos, não só no que dizem, também nisso, mas sobretudo em como vivem. Modelos no ser. Não só no fazer, que também é importante, mas especialmente no ser. Têm que ser o melhor que possam, para que seus filhos os olhem e queiram imitá-los. Minto, vão imitá-los de qualquer jeito. Sempre. Sejam como forem. Então, o que têm que perguntar-se é: “Certos de que nosso filho nos imita: o que queremos que veja? Como queremos que ele fique?”.

Poderíamos fazer uma lista enorme de dimensões nas quais os pais devem ser modelos (pessoas comprometidas com a realidade e com o próximo, pessoas cheias de valores, de responsabilidade, pessoas que vivam a autoridade como verdadeiro serviço e não como oportunidade para aproveitar-se dos outros, pessoas que usem o dinheiro e os bens materiais com retidão, etc). A lista pode ser longa. E olhe que foi. Embora mais coisas devessem entrar. Mas acredito que o ponto está no que engloba cada uma das características: têm que ser modelos de PESSOA. Sejam gente diante de seus filhos. Vivam segundo o melhor de vocês mesmos. Vivam segundo a identidade maravilhosa que Deus pôs na natureza que cada um de vocês.

Há algo mais que têm que ser. Não me culpem. Foi a cegonha. No envelopinho há uma letra pequena que diz: “além de modelos, prestem-se a ser animadores e motivadores de seus filhos e também doadores de confiança e segurança. Ah! E quando virem que estão indo por outro lado diferente do que é esperado, saibam corrigi-los e devolvê-los ao bom caminho”. Sigamos a cegonha. Exigente, né? Mas é o necessário!

Pois bem: não pensem que vocês podem tudo. Saibam reconhecer seus limites. Não poderão ser modelos de tudo, porque isso só Nosso Senhor Jesus Cristo é. Olha que Ele, no Templo, destruiu muita coisa e derrubou outras tantas. Mas isso creio que só Ele podia fazer. Então, reconheçam seus próprios limites como pais. Não poderão fazer tudo. E mais, digo-lhes desde já: vocês se equivocarão muitas vezes. Não se preocupem. Os filhos vêm de fábrica com a capacidade de aproveitar as faltas de seus pais. Aqui entre nós: eu sou o que sou porque um dia disse para mim mesmo: “vou ser totalmente diferente de meu pai”. Com o perdão de meu querido papaizinho. A quem quero muito. Que fique claro. Ele me ensinou muitas coisas boas. Verdade seja dita. Mas em várias coisas… pois bem, o espelho serve ao reverso.

Então, ânimo, e assumam com entusiasmo a responsabilidade que o céu lhes confia. O mundo de hoje é muito exigente e ameaçador. Mantenham-se juntos, para que a responsabilidade seja realmente repartida. Pois quatro braços trabalham muito melhor que dois. Saibam complementar-se. Foram feitos para isso.

Que Deus lhes abençoe em sua missão! E se virem-se em apuros, chamem a Virgem, a melhor mamãe de todas.

Pe. Andrés E. Machado

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