SOLENIDADE DE NOSSA SENHORA APARECIDA – Pela intercessão da Mãe, Jesus “manifestou a sua glória e os discípulos creram nEle”.

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1 – A PALAVRA DE DEUS

 

1ª Leitura: Ester 5, 1-2; 7, 2-3 – Concede-me a vida do meu povo – eis o meu desejo!

«Ester revestiu-se com vestes de rainha foi colocar-se no vestíbulo interno do palácio real, frente à residência do rei. O rei estava sentado no trono real, na sala do trono, frente à entrada. Ao ver a rainha Ester parada no vestíbulo, olhou para ela com agrado e estendeu-lhe o cetro de ouro que tinha na mão, e Ester aproximou-se para tocar a ponta do cetro. Então, o rei lhe disse:

– “O que me pedes, Ester; o que queres que eu faça? Ainda que me pedisses a metade do meu reino, ela te seria concedida”.

Ester respondeu-lhe:

– “Se ganhei as tuas boas graças, ó rei, e se for de teu agrado, concede-me a vida – eis o meu pedido! –e a vida do meu povo – eis o meu desejo!»

Salmo – Sl 44(45),11-12a.12b-13.14-15a.15b-16 – Escutai, minha filha, olhai, ouvi isto: que o Rei se encante com vossa beleza!

Escutai, minha filha, olhai, ouvi isto:
“Esquecei vosso povo e a casa paterna!
Que o Rei se encante com vossa beleza!

Prestai-lhe homenagem: é vosso Senhor!
O povo de Tiro vos traz seus presentes,
os grandes do povo vos pedem favores.

Majestosa, a princesa real vem chegando,
vestida de ricos brocados de ouro,
Em vestes vistosas ao Rei se dirige,

e as virgens amigas lhe formam cortejo,
entre cantos de festa e com grande alegria,
ingressam, então, no palácio real”.

1ª Leitura: Apocalipse 12, 1.5.13.15-16 – Um grande sinal apareceu no céu.

«Apareceu no céu um grande sinal: uma mulher vestida do sol, tendo a lua debaixo dos pés e sobre a cabeça uma coroa de doze estrelas. E ela deu à luz um filho homem, que veio para governar todas as nações com cetro de ferro. Mas o filho foi levado para junto de Deus e do seu trono.

Quando viu que tinha sido expulso para a terra, o dragão começou a perseguir a mulher que tinha dado à luz o menino. A serpente, então, vomitou como um rio de água atrás da mulher, a fim de a submergir. A terra, porém, veio em socorro da mulher.»

Evangelho: João 2, 1-11 – Fazei o que ele vos disser.

«Naquele tempo: Houve um casamento em Caná da Galileia. A mãe de Jesus estava presente. Também Jesus e seus discípulos tinham sido convidados para o casamento. Como o vinho veio a faltar, a mãe de Jesus lhe disse:

– “Eles não têm mais vinho”.

– “Mulher, por que dizes isto a mim? Minha hora ainda não chegou.”

Sua mãe disse aos que estavam servindo:

– “Fazei o que ele vos disser”. Estavam seis talhas de pedra colocadas aí para a purificação que os judeus costumam fazer. Em cada uma delas cabiam mais ou menos cem litros. Jesus disse aos que estavam servindo:

– “Enchei as talhas de água”.

Encheram-nas até a boca.

Jesus disse:

– “Agora tirai e levai ao mestre-sala”.

E eles levaram. O mestre-sala experimentou a água, que se tinha transformado em vinho. Ele não sabia de onde vinha, mas os que estavam servindo sabiam, pois eram eles que tinham tirado a água. O mestre-sala chamou então o noivo e lhe disse:

– “Todo mundo serve primeiro o vinho melhor e, quando os convidados já estão embriagados, serve o vinho menos bom. Mas tu guardaste o vinho melhor até agora!” Este foi o início dos sinais de Jesus. Ele o realizou em Caná da Galileia e manifestou a sua glória, e seus discípulos creram nele.»

2 – COMENTÁRIOS SOBRE O EVANGELHO[1]

O banquete de bodas

Segundo a tradição judia, as bodas eram celebradas quando o noivo já tinha o novo lar preparado. Acompanhado de seus amigos, o noivo se dirigia à casa da noiva ao anoitecer. Ela o esperava coberta com um véu e com um vestido de noiva. A jovem usava as jóias que o noivo lhe tinha dado. Em uma cerimônia simples, tirava-se o véu e o depositava no ombro do noivo. O noivo, acompanhado de seu melhor amigo, ia com a noiva a sua nova casa para celebrar as festas das bodas que costumavam durar sete dias. Os elementos importantes da festa eram as danças e o vinho «que alegra o coração do homem». O Talmud[2] diz que: «onde não há vinho não há alegria».

A passagem que lemos no Evangelho de São João se desenvolve na aldeia de Caná. Não se sabe com certeza se se trata da atual Kefr-Kenna, localizada a uns 6 Km a noreste de Nazaré, no caminho de Tiberíades, ou do que hoje são as ruínas de Kana-ao Djelil ou Kibert Kana, situada a mais do dobro de distância de Nazaré, para o norte. O Senhor vai a Caná, onde já estava sua Mãe, e acompanham-no alguns discípulos de João: André, Simão, Felipe e Natanael. Maria já se encontrava ali, e Jesus também chega como convidado. A ocasião para a manifestação do milagre e do mistério é um casamento de aldeia, aparentemente sem maior transcendência. É a primeira semana da vida pública do Senhor Jesus que é detalhadamente descrita, quase dia por dia, por São João: seu batismo, manifestação clara do Espírito Santo; a escolha dos primeiros discípulos; a formosa confissão de fé de Natanael, somada à de João. Todos estes acontecimentos culminam magnificamente no episódio das bodas de Caná.

J « Em Caná da Galileia Jesus deu início aos seus sinais »

Poderíamos ter uma aproximação superficial do Evangelho dominical já que parece um fato muito simples; mas, como todo o Evangelho de São João, tem uma profundidade imensa. Ali se insinua um mistério, sentimo-lo palpitar em cada palavra, vela-se e se revela. São João não chama a este fato um «milagre», como frequentemente se traduz, mas um «sinal». O episódio conclui: «Este foi o início dos sinais de Jesus. Ele o realizou em Caná da Galileia». Temos que nos perguntar: é um sinal de quê? Quer dizer que teremos que procurar um sentido posterior? Precisamente. Mas encontrá-lo não é tarefa fácil e muito menos explicá-lo.

Orígenes (século III) dá um critério de interpretação que é necessário ter em conta: «Ninguém pode compreender o significado do Evangelho de João se não tiver apoiado a cabeça no peito de Jesus e não tiver recebido, de Jesus, Maria como mãe».

 

Já vimos a importância de uma festa de bodas, entretanto o esposo é mencionado apenas de modo indireto e a esposa não aparece absolutamente. À medida que o relato se desenrola quem ocupa toda a cena é Jesus. O que o relato quer insinuar é que Jesus é o verdadeiro esposo, como declara o próprio João Batista: «Aquele que tem a esposa é o esposo. O amigo do esposo, porém, que está presente e o ouve, regozija-se sobremodo com a voz do esposo. Nisso consiste a minha alegria, que agora se completa» (Jo 3,29). Esta é a chave de leitura das bodas de Caná. Quem lê este Evangelho, na realidade, está escutando a voz do esposo e como verdadeiro «amigo do esposo» exulta de alegria. Sabemos que Jesus chamou a seus discípulos não com o nome de «servos» mas com o de «amigos».

Vejamos agora alguns detalhes importantes do milagre. Sua mãe Maria dá aos serventes esta instrução: «Fazei o que ele vos disser». E Jesus formula duas ordens: «Enchei as talhas de água». Depois que os serventes as enchem até a boca, adiciona: «Agora tirai e levai ao mestre-sala». O Evangelho diz que se tratava de seis talhas de duas ou três medidas cada uma. Fazendo uma estimativa, suponhamos que tenham sido duas medidas e meia. Sendo a medida (metretés) um volume de aproximadamente 40 litros, quer dizer que cada talha era de cem litros. Encher as seis talhas significava mover 600 litros de água. Foi um trabalho árduo. Mas, além disso, foi muito vinho. Para que tanto? O vinho abundante e bom, como certamente foi o resultado do milagre, representa a felicidade dos tempos messiânicos. No tempo precedente, antes da intervenção de Jesus, o vinho era escasso e de má qualidade. Dois vinhos distintos indicam dois tempos marcadamente distintos. O contraste é assim evidente! As ordens dadas por Jesus estão dirigidas aos serventes. Diante da água que enche as talhas não faz nenhum gesto, nem pronuncia nenhuma fórmula de bênção; só diz:  levai ao mestre-sala». Bastou sua divina presença para que a água se convertesse em vinho.

J «Fazei o que ele vos disser. …» 

É fundamental neste episódio a intervenção de Maria. Em primeiro lugar ela aparece interessada em todos os detalhes que afetam o homem embora possam parecer secundários. Assim «esboça-se aquilo em que se manifesta concretamente esta maternidade nova, segundo o espírito e não somente segundo a carne, ou seja, a solicitude de Maria pelos homens, o seu [desejo de] ir ao encontro deles, na vasta gama das suas carências e necessidades»[3]. Somente ela se dá conta de que a aliança nupcial estava fracassando e solicita a intervenção de Jesus: «Eles não têm mais vinho». A resposta que Jesus lhe dá é uma das expressões mais misteriosas do Evangelho: «ti emoi kai soi?» que a nossa tradução litúrgica apresenta como: «Mulher, por que dizes isto a mim? [4]».

Esta é uma expressão idiomática hebreia que se repete frequentemente no Antigo Testamento. Usa-se para pôr em questão a relação entre pessoas, podendo significar concordância ou recusa. Para entendê-la, então, é necessário estar atento ao contexto em que ela se situa, referenciando-a à “hora de Jesus”, que alguns situam como a hora de fazer milagres e outros como a hora da Paixão. Uma coisa é clara: Jesus explicita que, se até agora sua relação com sua mãe era de sujeição ─ «era-lhes submisso.» (Lc 2,51) ─, agora essa relação deve mudar e daí em diante é ela quem deve estar sujeita a Ele em tudo.

Desde esta hora Jesus, que tem o papel do esposo, toma toda iniciativa no estabelecimento da Nova Aliança. Jesus termina dizendo: «Minha hora ainda não chegou». Não era ainda a hora de sua manifestação ao mundo. E, entretanto, fez o milagre e «manifestou sua glória». Deus tinha disposto que sua hora chegasse depois desta súplica de Maria: «Eles já não têm vinho». Milhões de anos esperando a revelação do Messias se completaram por obra de Maria. Seu poder de intercessão é imenso.

Finalmente, Maria nos dá um belo exemplo de total confiança no poder de seu Amado Filho. Volta-se para Ele porque sabe que Ele pode resolver o problema. E ainda depois da resposta de Jesus continua confiando: « Fazei o que ele vos disser». A fé de Maria é que obtém o desenlace final: «Manifestou a sua glória, e os seus discípulos creram nele».

3 – PALAVRAS DE DOIS SANTOS PADRES:

«Ao narrar a presença de Maria na vida pública de Jesus, o Concílio Vaticano II recorda a sua participação em Caná por ocasião do primeiro milagre: «Nas bodas de Caná, movida de compaixão, levou Jesus Messias a dar início aos Seus milagres (cf. Jo. 2, 1-11)» (LG, 58). Seguindo a esteira do evangelista João, o Concílio faz notar o papel discreto e, ao mesmo tempo, eficaz da Mãe que, com a sua palavra, leva o Filho ao «primeiro sinal». Ela, embora exerça uma influência discreta e materna, com a sua presença resulta, no final, determinante.

A iniciativa da Virgem aparece ainda mais surpreendente, se se considera a condição de inferioridade da mulher na sociedade judaica. Em Caná, com efeito, Jesus não só reconhece a dignidade e o papel do gênio feminino, mas, acolhendo a intervenção de Sua Mãe, oferece-lhe a possibilidade de ser partícipe na obra messiânica. Não contrasta com esta intenção de Jesus o apelativo «Mulher », com o qual Ele se dirige a Maria (cf. Jo. 2, 4). Ele, de fato, não contém em si nenhuma conotação negativa e será de novo usado por Jesus em relação à Mãe, aos pés da Cruz (cf. Jo. 19, 26). Segundo alguns intérpretes, este título «Mulher» apresenta Maria como a nova Eva, mãe de todos os crentes na fé.

O Concílio, no texto citado, usa a expressão «movida de compaixão», deixando entender que Maria era inspirada pelo seu coração misericordioso. Tendo divisado a eventualidade do desapontamento dos esposos e dos convidados pela falta de vinho, a Virgem compadecida sugere a Jesus que intervenha com o seu poder messiânico. A alguns o pedido de Maria parece desproporcionado, porque subordina a um ato de piedade o início dos milagres do Messias. À dificuldade respondeu Jesus mesmo que, com o seu assentimento à solicitação materna, demonstra a superabundância com que o Senhor responde às expectativas humanas, manifestando também quanto pode o amor de uma mãe.

A expressão «dar início aos milagres », que o Concílio retomou do texto de João, chama a nossa atenção. O termo grego archè, traduzido por início, princípio, foi usado por João no Prólogo do seu Evangelho: «No princípio já existia o Verbo» (1, 1). Esta significativa coincidência induz a estabelecer um paralelo entre a primeira origem da glória de Cristo na eternidade e a primeira manifestação da mesma glória na sua missão terrena. Ressaltando a iniciativa de Maria no primeiro milagre e recordando depois a sua presença no Calvário, aos pés da Cruz, o evangelista ajuda a compreender como a cooperação de Maria se estende à obra de Cristo inteira. O pedido da Virgem coloca-se no interior do desígnio divino de salvação. No primeiro sinal operado por Jesus os Padres da Igreja divisaram uma forte dimensão simbólica, acolhendo, na transformação da água em vinho, o anúncio da passagem da antiga à nova Aliança. Em Caná, precisamente a água das jarras, destinada à purificação dos Judeus e ao cumprimento das prescrições legais (cf. Mc. 7, 1-15), torna-se o vinho novo do banquete nupcial, símbolo da união definitiva entre Deus e a humanidade ».

João Paulo II. Catequese da quarta-feira 5 de março de 1997.

 

«Gostaria de chamar atenção para três simples posturas: conservar a esperança; deixar-se surpreender por Deus; viver na alegria. (….)

1. Conservar a esperança. A segunda leitura da Missa apresenta uma cena dramática: uma mulher – figura de Maria e da Igreja – sendo perseguida por um Dragão – o diabo – que quer lhe devorar o filho. A cena, porém, não é de morte, mas de vida, porque Deus intervém e coloca o filho a salvo (cfr. Ap 12,13a.15-16a).  Quantas dificuldades na vida de cada um, no nosso povo, nas nossas comunidades, mas, por maiores que possam parecer, Deus nunca deixa que afundemos. Frente ao desânimo que poderia aparecer na vida, em quem trabalha na evangelização ou em quem se esforça por viver a fé como pai e mãe de família, quero dizer com força: Tenham sempre no coração esta certeza! Deus caminha a seu lado, nunca lhes deixa desamparados!

Nunca percamos a esperança! Nunca deixemos que ela se apague nos nossos corações! (…) Deus é o mais forte, e Deus é a nossa esperança! É verdade que hoje, mais ou menos todas as pessoas, e também os nossos jovens, experimentam o fascínio de tantos ídolos que se colocam no lugar de Deus e parecem dar a esperança: o dinheiro, o poder, o sucesso, o prazer.

Frequentemente, uma sensação de solidão e de vazio entra no coração de muitos e conduz à busca de compensações, destes ídolos passageiros. Queridos irmãos e irmãs, sejamos luzeiros de esperança! Tenhamos uma visão positiva sobre a realidade.

Encorajemos a generosidade que caracteriza os jovens, acompanhando-lhes no processo de se tornarem protagonistas da construção de um mundo melhor: eles são um motor potente para a Igreja e para a sociedade. Eles não precisam só de coisas, precisam sobretudo que lhes sejam propostos aqueles valores imateriais que são o coração espiritual de um povo, a memória de um povo.

Neste santuário, que faz parte da memória do Brasil, podemos quase que apalpar: espiritualidade, generosidade, solidariedade, perseverança, fraternidade, alegria; trata-se de valores que encontram a sua raiz mais profunda na fé cristã.

2. A segunda postura: Deixar-se surpreender por Deus. Quem é homem e mulher de esperança – a grande esperança que a fé nos dá – sabe que, mesmo em meio às dificuldades, Deus atua e nos surpreende. A história deste Santuário serve de exemplo: três pescadores, depois de um dia sem conseguir apanhar peixes, nas águas do Rio Paraíba, encontram algo inesperado: uma imagem de Nossa Senhora da Conceição.

Quem poderia imaginar que o lugar de uma pesca infrutífera, tornar-se-ia o lugar onde todos os brasileiros podem se sentir filhos de uma mesma Mãe? Deus sempre surpreende, como o vinho novo, no Evangelho que ouvimos. Deus sempre nos reserva o melhor. Mas pede que nos deixemos surpreender pelo seu amor, que acolhamos as suas surpresas. Confiemos em Deus!

Longe d’Ele, o vinho da alegria, o vinho da esperança, se esgota. Se nos aproximamos d’Ele, se permanecemos com Ele, aquilo que parece água fria, aquilo que é dificuldade, aquilo que é pecado, se transforma em vinho novo de amizade com Ele.

3. A terceira postura: Viver na alegria. Queridos amigos, se caminhamos na esperança, deixando-nos surpreender pelo vinho novo que Jesus nos oferece, há alegria no nosso coração e não podemos deixar de ser testemunhas dessa alegria.

O cristão é alegre, nunca está triste. Deus nos acompanha. Temos uma mãe que sempre intercede pela vida dos seus filhos, por nós, como a rainha Ester na primeira leitura. Jesus nos mostrou que a face de Deus é a de um Pai que nos ama. O pecado e a morte foram derrotados.

O cristão não pode ser pessimista! Não pode ter uma cara de quem parece num constante estado de luto. Se estivermos verdadeiramente enamorados de Cristo e sentirmos o quanto Ele nos ama, o nosso coração se “incendiará” de tal alegria que contagiará quem estiver ao nosso lado. Como dizia Bento XVI, aqui, neste santuário: “o discípulo sabe que sem Cristo não há luz, não há esperança, não há amor, não há futuro”.

Queridos amigos, viemos bater à porta da casa de Maria. Ela abriu-nos, fez-nos entrar e nos aponta o seu Filho. Agora Ele nos pede: “Fazei o que Ele vos disser”. Sim, Mãe nossa, nos comprometemos a fazer o que Jesus nos disser! E o faremos com esperança, confiantes nas surpresas de Deus e cheios de alegria. Assim seja.»

Homilia do Papa Francisco, na missa de 28/7/2013, no Santuário de Aparecida

 

 

4 – CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA

Totalmente unida a seu Filho

964. O papel de Maria em relação à Igreja é inseparável da sua união com Cristo e decorre dela diretamente. «Esta associação de Maria com o Filho na obra da salvação, manifesta-se desde a concepção virginal de Cristo até a sua morte». Mas é particularmente manifesta na hora da sua paixão.

Ela é nossa Mãe na ordem da graça

  1.  Pela sua plena adesão à vontade do Pai, à obra redentora do Filho e a todas as moções do Espírito Santo, a Virgem Maria é para a Igreja o modelo da fé e da caridade. Por isso, ela é «membro eminente e inteiramente singular da Igreja» e constitui mesmo «a realização exemplar», o typus, da Igreja.

968. Mas o seu papel em relação à Igreja e a toda a humanidade vai ainda mais longe. Ela «cooperou de modo inteiramente singular, com a sua fé, a sua esperança e a sua ardente caridade, na obra do Salvador, para restaurar nas almas a vida sobrenatural. É, por essa razão, nossa Mãe, na ordem da graça».

969. «Esta maternidade de Maria na economia da graça perdura sem interrupção, desde o consentimento, que fielmente deu na anunciação e que manteve inabalável junto da Cruz, até à consumação perpétua de todos os eleitos. De fato, depois de elevada ao céu, não abandonou esta missão salvadora, mas, com a sua multiforme intercessão, continua a alcançar-nos os dons da salvação eterna […]. Por isso, a Virgem é invocada na Igreja com os títulos de advogada, auxiliadora, socorro e medianeira».

970. «Mas a função maternal de Maria para com os homens, de modo algum ofusca ou diminui a mediação única de Cristo, mas antes manifesta a sua eficácia. Com efeito, todo o influxo salutar da Virgem santíssima […] deriva da abundância dos méritos de Cristo, funda-se na sua mediação e dela depende inteiramente, haurindo aí toda a sua eficácia». «Efetivamente, nenhuma criatura pode ser equiparada ao Verbo Encarnado e Redentor; mas, assim como o sacerdócio de Cristo é participado de diversos modos pelos ministros e pelo povo fiel, e assim como a bondade de Deus, sendo uma só, se difunde variamente pelos seres criados, assim também a mediação única do Redentor não exclui, antes suscita nas criaturas, uma cooperação variada, que participa dessa fonte única».

O culto à Santíssima Virgem

  1.  «Todas as gerações me chamarão bem-aventurada» (Lc 1, 48): «a piedade da Igreja para com a santíssima Virgem pertence à própria natureza do culto cristão». A santíssima Virgem «é com razão venerada pela Igreja com um culto especial. E, na verdade, a santíssima Virgem é, desde os tempos mais antigos, honrada com o título de “Mãe de Deus”, e sob a sua proteção se acolhem os fiéis implorando-a em todos os perigos e necessidades […]. Este culto […], embora inteiramente singular, difere essencialmente do culto de adoração que se presta por igual ao Verbo Encarnado, ao Pai e ao Espírito Santo, e favorece-o poderosamente» (LG 66). Encontra a sua expressão nas festas litúrgicas dedicadas à Mãe de Deus e na oração mariana, como o santo rosário, «resumo de todo o Evangelho».

5 – TEXTOS DA ESPIRITUALIDADE SODÁLITE

 

«O homem moderno está perdendo o silêncio. Uma cultura de ruídos, onde se cultua a palavra, a superficialidade e a dispersão impõe-se cada vez mais. Desta maneira os espaços de silêncio vão desaparecendo pouco a pouco. Primeiro nos aspectos externos da vida do homem, para depois passar aos mais profundos. Não exageramos ao afirmar que o homem atual está doente de barulho; sofre a zoeira das ruas, mas sobretudo padece pelo ruído que penetrou dentro dele mesmo. O homem dissolve-se, assim, no tráfego moderno, convertendo o silêncio em “um mero defeito de construção no curso contínuo do ruído”.

«O cristianismo tem uma escola privilegiada onde aprender a viver o caminho do silêncio: Maria. Com efeito, Ela, a Pedagoga do Evangelho, nos ensina com sua vida silenciosa o caminho da conformação com seu Filho, o caminho do pleno encontro e significação.

« Maria é todo um prodígio de equilíbrio pessoal onde se conjugam maravilhosamente a ação da graça e a resposta humana a partir de uma liberdade plenamente possuída. Este equilíbrio, presente em todo o seu ser, é expresso em sua capacidade de escuta, em sua capacidade de recolhimento, em sua reverência, em sua paz interior, em sua sobriedade corporal, em sua discrição, em sua reconciliação total. Ela é um sinal existencial de unidade. Todos os aspectos de sua vida estão unificados e se expressam em sua maturidade pessoal, naquela posse de si mesma que lhe permitirá, livremente, doar-se em amor e serviço.

«Por outro lado, Maria é totalmente o contrário da passividade. Desde o encontro com o anjo Gabriel toda a sua vida estará marcada pelo ‘Fiat’ que pronunciou e que evidencia sua atitude eminentemente dinâmica e decidida.

Maria não se retrai sobre si mesma colocando-se à margem da realidade ou dos outros. Não permanece alheia aos acontecimentos. Sai ao encontro da realidade e dos planos de Deus. (…) Em Caná está atenta às necessidades; ninguém lhe pede nada. Ela mesma, reverentemente, toma a iniciativa.

«Em nossa Mãe se manifesta um autêntico silêncio de palavra, de corpo, de mente de memória e de paixões. Em Maria o silêncio torna-se ação, torna-se eloquência plena.

[1] Baseado nos comentários do Centro Pastoral Jesus Maria para os textos do 2º Domingo do Tempo Comum, ano C – 2007. Alterações e acréscimos feitos pela tradutora.

[2]O Talmud é uma obra que recolhe as discussões sobre leis judias, tradições, costumes, lendas e histórias. O Talmud caracteriza-se por preservar a multiplicidade de opiniões através de um estilo de escritura associativo, principalmente em forma de perguntas, produto de um processo de escritura grupal às vezes contraditório. Mais que de um único Talmud se pode falar de dois: o Talmud de Jerusalém (Talmud Ierushalmi), que foi redigido na recém criada província romana chamada Palestina, e o Talmud da Babilônia (Talmud Bavli), que foi redigido na região da Babilônia . Ambos foram redigidos ao longo de vários séculos por gerações de rabinos das duas Academias Talmúdicas.

[3] João Paulo II. Encíclica Redemptoris mater,  21.

[4] Em grego: «ti emoi kai soi?» Em latim: “Quid mihi et tib, mulier?” que em português coloquial seria: “O que isto tem a ver comigo e contigo, mulher?” Em espanhol aparece traduzido como “¿Qué tengo yo contigo, mujer?”; na Bíblia de Jerusalém em português está: “Que queres de mim, mulher?” e na Bíblia de Navarra, em português de Portugal consta: “Que me desejas, Senhora?”.

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