SOLENIDADE DOS APÓSTOLOS SÃO PEDRO E SÃO PAULO: « Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja »

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I. A PALAVRA DE DEUS

Leitura do livro dos Atos dos Apóstolos 12, 1-11 – Agora sei que o Senhor enviou o seu anjo para me libertar do poder de Herodes.

«Naqueles dias, 1o rei Herodes prendeu alguns membros da Igreja, para torturá-los. 2Mandou matar à espada Tiago, irmão de João. 3E, vendo que isso agradava aos judeus, mandou também prender a Pedro. Eram os dias dos Pães ázimos. Depois de prender Pedro, Herodes colocou-o na prisão, guardado por quatro grupos de soldados, com quatro soldados cada um. Herodes tinha a intenção de apresentá-lo ao povo, depois da festa da Páscoa. 5Enquanto Pedro era mantido na prisão, a Igreja rezava continuamente a Deus por ele. 6Herodes estava para apresentá-lo. Naquela mesma noite, Pedro dormia entre dois soldados, preso com duas correntes; e os guardas vigiavam a porta da prisão. 7Eis que apareceu o anjo do Senhor e uma luz iluminou a cela. O anjo tocou o ombro de Pedro, acordou-o e disse:

– “Levanta-te depressa!”

As correntes caíram-lhe das mãos. 8O anjo continuou:

– “Coloca o cinto e calça tuas sandálias!”

Pedro obedeceu e o anjo lhe disse:

– “Põe tua capa e vem comigo!”

9Pedro acompanhou-o, e não sabia que era realidade o que estava acontecendo por meio do anjo, pois pensava que aquilo era uma visão.

10Depois de passarem pela primeira e segunda guarda, chegaram ao portão de ferro que dava para a cidade. O portão abriu-se sozinho. Eles saíram,  caminharam por uma rua e logo depois o anjo o deixou. 11Então Pedro caiu em si e disse:

– “Agora sei, de fato, que o Senhor enviou o seu anjo para me libertar do poder de Herodes e de tudo o que o povo judeu esperava!”

Salmo – Sl 33(34),2-3.4-5.6-7.8-9 (R. 5) – De todos os temores me livrou o Senhor Deus.

2Bendirei o Senhor Deus em todo o tempo,
seu louvor estará sempre em minha boca.
3Minha alma se gloria no Senhor;
que ouçam os humildes e se alegrem!

4Comigo engrandecei ao Senhor Deus,
exaltemos todos juntos o seu nome!
5Todas as vezes que o busquei, ele me ouviu,
e de todos os temores me livrou.

6Contemplai a sua face e alegrai-vos,
e vosso rosto não se cubra de vergonha!
7Este infeliz gritou a Deus, e foi ouvido,
e o Senhor o libertou de toda angústia.

8O anjo do Senhor vem acampar
ao redor dos que o temem, e os salva.
9Provai e vede quão suave é o Senhor!
Feliz o homem que tem nele o seu refúgio!

Leitura da segunda carta de São Paulo a Timóteo 4,6-8.17-18 – Agora está reservada para mim a coroa da justiça.

«Caríssimo:

6Quanto a mim, eu já estou para ser derramado em sacrifício; aproxima-se o momento de minha partida. 7Combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé. 8Agora está reservada para mim a coroa da justiça, que o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos que esperam com amor a sua manifestação gloriosa.

17Mas o Senhor esteve a meu lado e me deu forças; ele fez com que a mensagem fosse anunciada por mim integralmente, e ouvida por todas as nações; e eu fui libertado da boca do leão. 18O Senhor me libertará de todo mal e me salvará para o seu Reino celeste. A ele a glória, pelos séculos dos séculos! Amém.».

Leitura do Santo Evangelho segundo São Mateus 16, 13-19 – Tu és Pedro e eu te darei as chaves do Reino dos Céus.

«Naquele tempo: 13Jesus foi à região de Cesareia de Filipe e ali perguntou aos seus discípulos:

– “Quem dizem os homens ser o Filho do Homem?”

14Eles responderam:

– “Alguns dizem que é João Batista; outros que é Elias; Outros ainda, que é Jeremias ou algum dos profetas”.

15Então Jesus lhes perguntou:

– “E vós, quem dizeis que eu sou?”

16Simão Pedro respondeu:

– “Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo”.

17Respondendo, Jesus lhe disse:

– “Feliz es tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi um ser humano que te revelou isso, mas o meu Pai que está no céu. 18Por isso eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra construirei a minha Igreja, e o poder do inferno nunca poderá vencê-la. 19Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: tudo o que tu ligares na terra será ligado nos céus; tudo o que tu desligares na terra  será desligado nos céus”.

II. COMENTÁRIOS

A solenidade dos Santos apóstolos Pedro e Paulo, cujo dia próprio é 29 de junho, neste ano cai na segunda feira, mas no Brasil é celebrada no domingo. A celebração dos dois grandes apóstolos é feita nesse dia, pois esta festa não tem outra razão senão glorificar a Cristo, por quem eles viveram e morreram. O prefácio da Missa deste dia expressa a razão de nossa ação de graças ao Senhor: «Hoje, vós nos concedeis a alegria de celebrar os apóstolos são Pedro e são Paulo. Pedro, o primeiro a proclamar a fé, fundou a Igreja primitiva sobre a herança de Israel. Paulo, mestre e doutor das nações, anunciou-lhes o Evangelho da Salvação. Por diferentes meios, os dois congregaram a única família de Cristo e, unidos pela coroa do martírio, recebem hoje, por toda a terra, igual veneração».

Na Primeira Leitura, tirada do livro dos Atos dos Apóstolos, Pedro, no cárcere, recebe a visita de um anjo enviado por Deus que o liberta das cadeias e o convida a segui-lo, para assim poder continuar a governar a Igreja do Senhor. São Paulo, na segunda carta a seu filho querido, Timóteo, abre seu coração estando já perto de ser martirizado e recorda com sinceridade que «combateu o bom combate». Estando já ao final de sua carreira, espera com confiança na misericórdia do «justo Juiz» que sempre o assistiu e lhe deu forças. Na famosa passagem do primado de Pedro vemos a abertura e docilidade do apóstolo para assim proclamar «Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo.

No dizer do povo, quem é o Filho do Homem?

Em certo momento de sua vida, depois de ter feito numerosos milagres e de ter exposto sua maravilhosa doutrina, Jesus quis saber que opinião o povo tinha formado sobre Ele.  Em uma ocasião em que Ele se reunia em particular com seus apóstolos, pergunta-lhes: «Quem dizem os homens ser o Filho do Homem?». Sem dúvida o povo comentava muitas coisas a respeito dEle. Mas as opiniões que se tinham não acertavam em tudo: «Alguns dizem que é João Batista; outros que é Elias; Outros ainda, que é Jeremias ou algum dos profetas». Estas respostas estavam muito longe de ser toda a verdade. Desta vez a pergunta se dirige diretamente a seus apóstolos: «E vós quem dizeis que eu sou?» Podemos imaginar que os discípulos vacilavam, já que talvez suas respostas não fossem totalmente exatas. Eles certamente tinham pensado muitas coisas a respeito de Jesus. Pouco antes, quando o viram caminhar sobre a água, depois que Ele, junto com Pedro, subiu na barca e amainou o forte vento, os discípulos «prostraram-se diante dele e disseram: Tu és verdadeiramente o Filho de Deus» (Mt 14,33). Mas, não se tinham deixado levar pela impressão do momento? A lei judia, promulgada por Deus, era muito severa neste ponto: «eu sou o Senhor, teu Deus, que te tirei do Egito… Não terás outro deus diante de mim.» (Dt 5,6-7). Para um judeu estava estritamente proibido prostrar-se diante de qualquer outra realidade fora do único Deus.

Enquanto os discípulos vacilavam em responder, adianta-se Pedro e afirma com decisão: «Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo”». Pedro foi o primeiro em confessar a fé. Esta afirmação é o centro da fé cristã. Devemos sua formulação a Pedro. Mas ele não chegou a isso graças a sua perspicácia ou a sua inteligência: foi uma revelação de Deus, tal como é declarado por Jesus: «Feliz es tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi um ser humano que te revelou isso, mas o meu Pai que está no céu.». Desta maneira Ele nos ensina que a fé em Cristo é um dom de Deus e que Pedro foi o primeiro a quem tal dom foi concedido. A esta confissão segue uma promessa de Cristo: «Tu és Pedro, e sobre esta pedra construirei a minha Igreja, e o poder do inferno nunca poderá vencê-la».

Esta promessa é uma verdadeira profecia. Talvez nunca tenhamos nos detido a pensar nela. Jesus troca o nome de Simão para lhe indicar sua missão: ser a pedra sobre a qual seria edificada a Igreja de Cristo. Que ninguém ponha outro fundamento [para a Igreja] que o posto por Cristo! Outras comunidades não fundadas sobre essa pedra não são «a Igreja de Cristo», que está fundada sobre Pedro e seus Sucessores e é a que desafia as potências inimigas e toda adversidade. “O poder do inferno” levantou-se, ao longo da história, contra a Igreja. Perseguiram-na, procuraram eliminá-la, mas não prevaleceram contra ela. Talvez o momento mais crítico tenha sido, precisamente, quando o Império Romano matou os dois grandes apóstolos Pedro e Paulo com a intenção de acabar com a Igreja. Mas nem sequer isto conseguiu vencê-la, pois em seguida assumiu a missão um Sucessor da «Pedra», e a Igreja seguiu sua marcha em meio às perseguições.

As palavras que Cristo então disse a Pedro continuam ressonando hoje: «Os poderes adversos não prevalecerão contra a Igreja». E sabemos que passarão o céu e a terra antes que se deixe de cumprir uma vírgula da palavra de Cristo. Hoje em dia o Papa Francisco, Sucessor de Pedro, oferece um apoio seguro em que a Igreja e a verdadeira fé se fundamentam. A ele, como então a Pedro, corresponde formular a fé e a moral cristãs. Aquele que dissente dele nestas matérias fica à margem do Reino dos céus, pois só a ele se dirigem as palavras que Cristo adiciona: «Eu te darei as chaves do Reino dos Céus».

« Agora vejo que o Senhor mandou verdadeiramente o seu anjo »

O capítulo 12 dos Atos dos Apóstolos menciona a perseguição da Igreja em Jerusalém por Herodes Agripa I onde São Tiago, o Maior, foi decapitado e São Pedro encarcerado. O capítulo acaba com a terrível morte de Herodes pelas mãos do anjo do Senhor (ver At 12,23). Toda a cena da libertação de Pedro tem um colorido muito real e vivo. O detalhe da criada Rode (ver At 12, 13-16) que vai à porta, e que alegre por escutar e reconhecer a voz de Pedro parte para dar a notícia, deixando Pedro na rua, que continua chamando e fazendo barulho para que o deixem entrar, tem um pitoresco frescor. Por outro lado, a atitude de Pedro, que ao longo da passagem duvida entre a visão e a realidade, responde muito bem ao seu caráter rude de homem do mar.

Vale a pena destacar alguns pontos da narração. Um deles é a atitude da Igreja que «orava sem cessar por ele a Deus». Trata-se de uma oração intensa que provém da angústia e da preocupação pela detenção daquele que Jesus escolheu como seu «vigário». A intervenção do anjo que diz a Pedro que se levante e que o siga recorda a cena do anjo que cuida e guia Elias rumo ao monte Horeb (ver 1Rs 19,5-8). Finalmente Pedro enumera dois inimigos dos quais Deus o livrou: Herodes e o povo judeu, que esperava presenciar e tomar parte no julgamento e, talvez, apedrejá-lo. Pedro, sendo ele mesmo judeu, distingue-se dos judeus. O acontecimento reveste-se, pois, de um sentido religioso e de inimizade.

III. LUZES PARA A VIDA CRISTÃ

  1. O Evangelho de hoje é o Evangelho da entrega das chaves a Pedro. Sou consciente de que Pedro – hoje Papa Francisco – necessita de minha constante oração, ajuda e respaldo?
  2. São Paulo nos diz que ao final de seus dias permaneceu firme na fé, posso dizer eu o mesmo? Peçamos ao Senhor o dom da fidelidade e da coerência.

 

IV. PADRES DA IGREJA

Papa João Paulo II, homila da missa de 29/6/2004 – «”Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo” (Mt 16, 16). Interrogado pelo Senhor, Pedro, também em nome dos outros Apóstolos, faz a sua profissão de fé.

Nela é afirmado o fundamento seguro do nosso caminho rumo à plena comunhão. De facto, se desejamos a unidade dos discípulos de Cristo, devemos repartir de Cristo. Assim como a Pedro, também a nós é pedido que confessemos que Ele é a pedra angular, o Chefe da Igreja. Na Carta apostólica Ut unum sint escrevi: “Acreditar em Cristo significa querer a unidade; querer a unidade significa querer a Igreja; querer a Igreja significa querer a comunhão de graça que corresponde ao desígnio do Pai desde toda a eternidade” (n. 29).

Ut unum sint! Eis de onde provém o nosso compromisso de comunhão, em resposta ao fervoroso desejo de Cristo. Não se trata de uma vaga relação de boa proximidade, mas do vínculo indissolúvel da fé teologal pela qual somos destinados não à separação, mas à comunhão.»

 

Bento XVI. Homilia de 29 de junho 2007 – «Há dois modos de “ver” e de “conhecer” Jesus: um, o da multidão, mais superficial; o outro, o dos discípulos, mais penetrante e autêntico. Com a dupla pergunta: “O que diz o povo?”, “o que vós dizeis de mim?”, Jesus convida os discípulos a tomar consciência desta perspectiva diversa. O povo pensa que Jesus é um profeta. Isto não é falso, mas não basta; é inadequado. Com efeito, deve-se ir até o fundo; é preciso reconhecer a singularidade da pessoa de Jesus de Nazaré, sua novidade. Também hoje acontece o mesmo: muitos se aproximam de Jesus, por assim dizer, por fora. Grandes estudiosos reconhecem sua estatura espiritual e moral e seu influxo na história da humanidade, comparando-o a Buda, Confúcio, Sócrates e a outros sábios e grandes personagens da história. Mas não chegam a reconhecê-lo em sua unicidade. Vem à memória o que Jesus disse a Felipe durante a última Ceia:  “Tanto tempo faz que estou convosco e não me conheces Felipe?” (Jo 14, 9).

Frequentemente Jesus é considerado também como um dos grandes fundadores de religiões, um dos que cada um pode tomar algo para formar uma convicção própria. Portanto, como então, também hoje “o povo” tem opiniões diversas sobre Jesus. E, como então, também a nós, discípulos de hoje, Jesus repete sua pergunta: “E vós quem dizeis que eu sou?”. Queremos fazer nossa a resposta de são Pedro. Segundo o Evangelho de são Marcos, ele disse:  “Tu és o Cristo.” (Mc 8, 29); em são Lucas, a afirmação é:  “O Cristo de Deus” (Lc 9, 20); em são Mateus:  “Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo!” (Mt 16, 16); por último, em são João:  “Tu és o Santo de Deus!” (Jo 6, 69). Todas essas respostas são exatas e valem também para nós.

Consideremos, em particular, o texto de são Mateus, recolhido na liturgia de hoje. Segundo alguns estudiosos, a fórmula que aparece nele pressupõe o contexto pós-pascal e inclusive estaria vinculada a uma aparição pessoal de Jesus ressuscitado a são Pedro; uma aparição análoga à que teve são Paulo no caminho de Damasco. Na realidade, o encargo conferido pelo Senhor a são Pedro está enraizado na relação pessoal que o Jesus histórico teve com o pescador Simão, do primeiro encontro com ele, quando lhe disse: “Tu és Simão, (…) serás chamado Cefas (que quer dizer Pedra)” (Jo 1, 42). O evangelista São João, também ele pescador e sócio, com seu irmão são Tiago, dos dois irmãos Simão e André sublinha isso. O Jesus que depois da ressurreição chamou Saulo é o mesmo que — ainda imerso na história — se aproximou, depois do batismo no Jordão, dos quatro irmãos pescadores, então discípulos do Batista (cf. Jo 1, 35-42). Foi buscá-los à margem do lago da Galileia e os convidou a segui-lo para serem “pescadores de homens” (cf. Mc 1, 16-20).

Além disso, a Pedro encomendou uma tarefa particular, reconhecendo nele um dom especial de fé concedido pelo Pai celestial. Evidentemente, tudo isto foi iluminado depois pela experiência pascal, mas permaneceu sempre firmemente ancorado nos acontecimentos históricos precedentes à Páscoa. O paralelismo entre são Pedro e são Paulo não pode diminuir o alcance do caminho histórico de Simão com seu Mestre e Senhor, que desde o início atribuiu-lhe a característica de “rocha” sobre a qual edificaria sua nova comunidade, a Igreja.»

 

Papa Francisco, homilia na missa de 29/6/2014 – «Pedro experimentou que a fidelidade de Deus é maior do que as nossas infidelidades, e mais forte do que as nossas negações. Dá-se conta de que a fidelidade do Senhor afasta os nossos medos e ultrapassa toda a imaginação humana. Hoje, Jesus faz a mesma pergunta também a nós: «Tu amas-Me?». Fá-lo precisamente porque conhece os nossos medos e as nossas fadigas. E Pedro indica-nos o caminho: fiarmo-nos d’Ele, que «sabe tudo» de nós, confiando, não na nossa capacidade de Lhe ser fiel, mas na sua inabalável fidelidade. Jesus nunca nos abandona, porque não pode negar-Se a Si mesmo (cf. 2 Tm 2, 13). É fiel. A fidelidade que Deus, sem cessar, nos confirma também a nós, Pastores, independentemente dos nossos méritos, é a fonte de nossa confiança e da nossa paz. A fidelidade do Senhor para conosco mantém sempre aceso em nós o desejo de O servir e de servir os irmãos na caridade».

V. CATECISMO DA IGREJA

Desde o início de sua vida pública, Jesus escolhe homens em número de doze para estar com Ele e para participar de sua missão; dá-lhes participação em sua autoridade “e enviou-os a proclamar o Reino de Deus e a curar” (Lc 9,2). Permanecem eles para sempre associados ao Reino de Cristo, pois Jesus dirige a Igreja por intermédio deles:

Disponho para vós o Reino, como meu Pai o dispôs para mim, a fim de que comais e bebais à minha mesa em meu Reino, e vos senteis em tronos para julgar as doze tribos de Israel (Lc 22,29-30).

  1. No colégio dos Doze, Simão Pedro ocupa o primeiro lugar. Jesus confiou-lhe uma missão única. Graças a uma revelação vinda do Pai, Pedro havia confessado: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mt 16,16). Nosso Senhor lhe declara na ocasião: “Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei minha Igreja, e as Portas do Inferno nunca prevalecerão contra ela” (Mt 16,18). Cristo, “Pedra viva”; garante a sua Igreja construída sobre Pedro a vitória sobre as potências de morte. Pedro, em razão da fé por ele confessada, permanecerá como a rocha inabalável da Igreja. Terá  por missão defender esta fé de todo desfalecimento e confirmar nela seus irmãos.
  2. Jesus confiou a Pedro uma autoridade específica: “Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: o que ligares na terra será ligado nos Céus, e o que desligares na terra será  desligado nos Céus” (Mt 16,19). O “poder das chaves” designa a autoridade para governar a casa de Deus, que é a Igreja. Jesus, “o Bom Pastor” (Jo 10,11), confirmou este encargo depois de sua Ressurreição: “Apascenta as minhas ovelhas” (Jo 21,15-17). O poder de “ligar e desligar” significa a autoridade para absolver os pecados, pronunciar juízos doutrinais e tomar decisões disciplinares na Igreja. Jesus confiou esta autoridade à Igreja pelo ministério dos apóstolos e particularmente de Pedro, o único ao qual confiou explicitamente as chaves do Reino.
  3. “Goza desta infalibilidade o Pontífice Romano, chefe do colégio dos Bispos, por força de seu cargo quando, na qualidade de pastor e doutor supremo de todos os fiéis e encarregado de confirmar seus irmãos na fé, proclama, por um ato definitivo, um ponto de doutrina que concerne à fé ou aos costumes… A infalibilidade prometida à Igreja reside também no corpo episcopal quando este exerce seu magistério supremo em união com o sucessor de Pedro”, sobretudo em um Concílio Ecumênico. Quando, por seu Magistério supremo, a Igreja propõe alguma coisa “a crer como sendo revelada por Deus” como ensinamento de Cristo, “é preciso aderir na obediência da fé a tais definições. Esta infalibilidade tem a mesma extensão que o próprio depósito da Revelação divina”
  4. O romano pontífice e os Bispos “são os doutores autênticos dotados da autoridade de Cristo, que pregam ao povo a eles confiado a fé que deve ser crida e praticada”. O magistério ordinário e universal do Papa e dos Bispos em comunhão com ele ensina aos fiéis a verdade em que se deve crer; a caridade que se deve praticar, a felicidade que se deve esperar.

VI. TEXTOS DA ESPIRITUALIDADE SODÁLITE

«”Ubi Petrus, ibi ergo Ecclesia”[1]. Onde está Pedro, aí está a Igreja. Desde seus inícios e cada vez com maior clareza, a Igreja compreendeu que, da mesma maneira que existe a Sucessão dos Apóstolos no ministério dos Bispos, «assim também o ministério da unidade, encomendado a Pedro, pertence à estrutura perene da Igreja de Cristo e que esta sucessão está fixada na sede de seu martírio»[2].

O Papa, Bispo de Roma e sucessor de São Pedro, «é o perpétuo e visível princípio e fundamento da unidade, quer dos Bispos, quer da multidão dos fiéis»[3]. Com estas palavras o Catecismo da Igreja Católica lembra uma verdade essencial na natureza da Igreja: o Primado de Pedro. Desde a sua fundação, o Senhor Jesus quis que a Igreja tivesse no Bispo de Roma uma cabeça visível. A Igreja é consciente de ter conservado, com fidelidade à Tradição Apostólica e à fé dos Padres, o ministério do Sucessor de Pedro, pelo qual devemos estar sinceramente agradecidos.» (CPD# 145)

«Da presença de São Pedro em Roma temos múltiplas evidências históricas, tanto arqueológicas como literárias. Ainda que não se mencione expressamente no Novo Testamento, é muito possível que sua primeira carta fosse escrita de Roma, pois ali se lê: «A que está em Babilônia (Igreja), eleita como vós, vos saúda» [4], sendo “Babilônia” um nome utilizado na antiga literatura cristã para referir-se a Roma. Assim mesmo, antigos escritores eclesiásticos, como Papías de Hierápolis (século II) e Clemente de Alexandria (século I) fazem menção da estada de Pedro em Roma. De igual modo, São Clemente Romano (século I), terceiro sucessor de São Pedro, recorda seu martírio na Cidade Eterna.

A isso se somam numerosos argumentos arqueológicos. Dão testemunho da permanência em Roma, e particularmente de sua morte, a investigação realizada em torno da tumba do Apóstolo, em especial após os descobrimentos realizados no século XX sob a Basílica de São Pedro. O que a Tradição havia conservado e transmitido com fidelidade durante vinte séculos foi confirmado pelas escavações iniciadas sob o Pontificado do Papa Pio XII, que levaram a descobrir, justamente debaixo do Altar Mor da Basílica, uma tumba e inscrições que indicam, com grande probabilidade, de que se trata da tumba do Príncipe dos Apóstolos. (Idem)

«Nos Atos dos Apóstolos, referindo-se a Paulo e os apóstolos, narra-se que «Saulo andava com eles por Jerusalém, pregando corajosamente em nome do Senhor» (At 9, 28). Nesta passagem aparece o vocábulo parrésia (traduzido aqui como “pregando corajosamente”) que nos recorda que uma característica essencial na missão evangelizadora é falar com valentia, liberdade e sem medo.

Parrésia é uma palavra de origem grega, que se forma pela soma de dois termos: pas, que significa ‘tudo’, e rhesis, que significa ‘fala’. Essa palavra designa, sobretudo, a liberdade ao falar, o anúncio com valentia e sem ambiguidades.

A pessoa que tem parrésia é a pessoa audaz, que tem segurança em Deus e em si mesma, está cheia de coragem e generosidade. Por outro lado, a parrésía também se aplica à pessoa que vive com transparência e liberdade de espírito(CPD# 162)

[1] Santo Ambrosio, Enarr. in Ps. 40,30.

[2] Congregação para a Doutrina da Fé, O primado do Sucessor de Pedro no mistério da Igreja, n. 3.

[3] Catecismo da Igreja Católica, n. 882.

[4] 1Pe 5,13.

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